Crescimento de dois dígitos, expansão de unidades, lançamentos de novos produtos, aumento de vagas e contas sob controle. Parece até o desempenho de empresas americanas ou chinesas, inseridas em um cenário econômico estável. Trata-se, porém, de companhias brasileiras, de diferentes portes e segmentos, que superam a estagnação econômica do país e atravessam a crise com menos turbulência do que a maioria.
Atentas à eficiência de suas operações, as empresas que crescem apesar da crise comprovam o que determina a cartilha de boas práticas administrativas e de gestão: o planejamento estratégico e o controle dos processos a qualquer tempo – e não apenas quando a conjuntura não favorece –, constroem a “gordura” necessária para superar adversidades, como queda de renda e consumo, ou restrição de crédito.
“São empresas que souberam aproveitar períodos de bonança, fizeram a lição de casa para enfrentar uma mudança de cenário e sofrem menos prejuízos”, explica o consultor da assessoria empresarial GO Associados, Alexandre Andrade.
O crescimento contínuo e bem estruturado tem sido a estratégia da rede de farmácias Panvel, do Rio Grande do Sul. A empresa quer fechar o ano com 32 novas lojas na Região Sul, com aumento de 15% sobre o faturamento de 2014, nível alcançado nos últimos anos. “Essa consistência nos dá musculatura para expansão. Não adianta crescer rápido sem dar atenção ao caixa, à qualidade do produto, pontos de venda e serviço”, aposta o vice-presidente da empresa, Julio Mottin Neto.
A Panvel chegou ao Paraná em 2010, abrindo o mercado em Curitiba, onde hoje tem 30 lojas. Neste ano, serão outras cinco na capital, seis unidades em Londrina e, em 2017, quatro em Maringá. A estratégia é posicionar-se como ponto de conveniência para o cliente, com mix de produtos que, em breve, deve incluir até material de escritório. Seus pontos de venda são amplos e de fácil acesso, preferencialmente instalados no contra fluxo do consumidor e em áreas residenciais.
Para dar suporte à expansão, a empresa investe em logística e treinamento. O capex – capital de investimentos em bens de capital – deste ano está previsto em R$ 35 milhões, que serão aplicados na abertura das lojas e em inovação. Em outubro, a Panvel lança um aplicativo para celular para ampliar seu e-commerce. No ano passado, inaugurou um novo centro de distribuição. “A inovação também precisa ser aplicada no varejo 1.0. Não adianta ter bom mix e estratégia, se não houver um bom atendimento e conexão com o cliente”, diz Monttin.
Prestar atenção na clientela é uma postura fundamental para não perder vendas e melhorar o desempenho. Na ponta da cadeia, o treinamento de quem está em contato direto com o consumidor também ajuda no desempenho. Para a consultora Cláudia Bittencourt, diretora do Grupo Bittencourt, especializado em franquias, não é hora de fazer mais do mesmo. “É preciso criatividade para provocar o cliente e trabalhar a carteira, ampliando o atendimento”, diz. Para a executiva, a área de marketing e comunicação das empresas e o ajuste nos processos e custos são essenciais para superar o momento da economia. “O varejo deve trabalhar com margens e estoques menores, além de usar melhor seus recursos, inclusive nas equipes”, diz.