O mês de janeiro veio cheio de más notícias na economia real. Diversos indicadores econômicos vieram muito ruins – como a produção de veículos ainda em queda e o movimento menor no comércio. Entre tantos dados ainda no vermelho, chama a atenção uma melhora geral nos índices de confiança na economia.
INFOGRÁFICO: Veja o histórico de pontuação dos principais indicadores de confiança do mercado.
Em janeiro, todas as principais medidas de confiança apresentaram melhora. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), subiu 2%, de 36 para 36,5 pontos, acima da mínima histórica registrada em outubro. Um índice semelhante calculado para o comércio pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) teve uma melhora semelhante, passando da mínima histórica de 79,9 em dezembro para 80,9 pontos.
Esses números, ainda muito distantes da normalidade pré-crise, foram corroborados pelas pesquisas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), que calcula índices para indústria, comércio e serviços – no setor de serviços, o instituto captou uma melhora de 4%, de 67,6 pontos para 70,4 pontos.
A evolução da confiança dos empresários é acompanhada por dados positivos entre consumidores – um dos indicadores, medido pela CNC, passou de 76,5 para 77,5 pontos em janeiro, após ter sua mínima registrada em novembro (76,4 pontos).
A melhora dos índices levanta duas hipóteses entre especialistas. A primeira é a de que a confiança já teria chegado ao “fundo do poço”, refletindo todos os fatores que surpreenderam o mercado no ano passado, como a crise política e a degradação das contas públicas. A segunda é a de que empresários e consumidores começam a enxergar a estabilização da economia para o segundo semestre. “Ainda precisamos de mais alguns meses para afirmar que a confiança se estabilizou e vai voltar a crescer”, diz a economista Izis Ferreira, da CNC. “O que notamos é uma melhora na expectativa sobre o futuro e na intenção de investimento”, completa. Se essa tendência se mantiver, é possível que o período de ajuste, com corte em lojas e estoques, seja sucedido por um momento de maior estabilidade no segundo semestre.
Os índices de confiança ainda estão muito próximos das mínimas históricas. Precisamos de alguns meses para ver se há tendência de recuperação.
A melhora da confiança, porém, ainda não é suficiente para mudar o cenário para o ano, mas é um fator que pode indicar como a recessão vai se comportar. Em relatório divulgado na sexta-feira (5), a equipe do banco Itaú elevou sua perspectiva de retração do PIB deste ano para 4%. Os economistas da instituição entendem que somente entre o terceiro e o quarto trimestres haverá estabilização na atividade, tese reforçada pelos índices de confiança em janeiro.
Marcelo Azevedo, economista da CNI, lembra que uma recuperação mais forte da confiança vai depender de alguma melhora na economia real, o que ainda não ocorre. Para ele, nem mesmo o pacote de crédito anunciado pelo governo no fim de janeiro muda o cenário neste momento. “O investimento não deve ter efeito sobre o crescimento porque o problema não é falta de crédito, mas falta de disposição para investir”, explica.