Antônio Avelãs Nunes, especialista em Direito e Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).
Líderes europeus estão para discutir medidas para tentar solucionar os problemas econômicos da zona do euro. O que esperar dessa iniciativa?
Um escritor brasileiro, Álvaro Moreyra, disse que "o mundo estava errado e precisava ser passado a limpo". Digo que a Europa está errada e precisa ser passada a limpo. O continente é o maior monumento do neoliberalismo e não irá sair da crise enquanto não se libertar desta corrente. A Europa não cresce desde a adoção do euro como moeda mesmo economias maiores, como a Alemanha. Eu escrevi há uns dez anos que bastava vir uma crise forte para se ver a falta de defesa da Europa, e é o que estamos vendo agora.
Como o senhor analisa a atuação do Banco Central Europeu frente à crise?
Veja, o BCE não pode atuar para salvar os governos, mas pode salvar os bancos. Por isso, a instituição acaba emprestando dinheiro a juros de 1% aos bancos, que emprestam a 10% aos governos. A atuação do BCE é esquizofrênica.
A Grécia e outros países europeus estão adotando medidas de austeridade para receber ajuda financeira. Como o senhor vê esta situação?
Não se combate a crise acentuando a crise. Liquidar investimento sem educação, saúde, em política pública, só vai ajudar a matar ainda mais a economia. Quem não cresce não paga sua dívida, e por essa razão acho que o fim desta crise não está à vista.
Que reflexos o senhor acredita que a crise pode ter no Brasil?
O Brasil está bem colocado para ver a crise passar ao lado, a menos que haja um agravamento político e até militar dela. O país não está fora do mundo, mas tem suas almofadas para se proteger. Inclusive suas deficiências podem até ser benéficas. As desigualdades sociais, se combatidas, podem multiplicar o poder de compra no país e aumentar ainda mais seu mercado interno. Há milhões de favelados, e resolver seus problemas pode fazer a construção civil continuar crescendo. Para conseguir continuar a crescer, o Brasil precisa investir em educação e infraestrutura, além de acabar com os privilégios dos políticos. O desafio é grande.
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