A terceira idade está invadindo a internet no Brasil e o tabu de fazer compras no mundo virtual começa a ser quebrado. Uma pesquisa do Instituto Locomotiva revelou que 5,2 milhões de pessoas com mais de 60 anos já utilizam regularmente a web no país. Em apenas oito anos, foi um salto de 940%, o equivalente a 4,8 milhões de novos usuários.
A Ebit, empresa especializada em comércio eletrônico, calculou que o consumidor mais velho já movimenta R$ 15,6 bilhões em compras on-line. Segundo a Ebit, nenhuma outra faixa de comprador on-line teve avanço tão rápido nos últimos anos. De olho nesse fenômeno, as empresas começam a se preparar para conversar com os idosos conectados.
R$ 411
é o valor do tíquete médio de compras do consumidor com mais de 50 anos. A cifra é 6% maior que a média de todos os internautas (R$ 388)
“Mais de 26 milhões de pessoas têm mais de 60 anos no país. É uma parcela da população com renda somada que chega a R$ 330 bilhões. A internet definitivamente passou a influenciar os hábitos de consumo desse público, que cada vez mais usará a rede para se informar, participar de redes sociais ou fazer compras”, explica Renato Meirelles, sócio do Instituto Locomotiva, que realizou o levantamento em todo o país, em julho, com base em 1.950 entrevistas.
De acordo com a Ebit, os itens perfumaria e saúde são os mais procurados pelos internautas mais velhos, seguidos por eletrodomésticos, casa e decoração, moda e acessórios e telefonia celular, nesta ordem.
Além disso, o tíquete médio gasto nos sites pelo consumidor com mais de 50 anos é de R$ 411, contra R$ 388 da média de todas as idades. No ano passado, dos R$ 41 bilhões gastos em e-commerce no Brasil, esse público foi responsável por 35%. E a tendência é que o gasto dessa turma cresça ainda mais.
“Iniciamos o mapeamento do e-commerce brasileiro há 16 anos. Lá atrás, esse público representava 5% dos pedidos feitos pela internet. No ano passado, o percentual chegou a 33%. Nenhuma outra faixa de compradores cresceu tanto e tão rápido”, avaliou Guasti.
Medicamentos
A demanda mais intensa da terceira idade no e-commerce já é relatada pelos varejistas. A Ultrafarma, rede de farmácias, que tem uma campanha publicitária estimulando seus clientes a comprarem pelo canal virtual, detectou crescimento expressivo da parcela de clientes da terceira idade desde 2013.
O público com mais de 60 anos representava menos de 1% entre os clientes que compravam regularmente pelo site três anos atrás. Hoje, já são 10%, e a velocidade de crescimento é a mais alta entre todas as faixas de idade.
“A maioria dos clientes de medicamentos de uso contínuo é da terceira idade. Mas isso não se traduzia no ambiente on-line, já que havia a barreira tecnológica. Com os celulares ganhando mais recursos e se tornando a forma mais comum de acesso à web, isso começou a mudar. Nos últimos anos, a terceira idade é a parcela de público que mais cresce nas compras do site”, afirmou Ricardo Vieira da Silva, diretor de e-commerce da Ultrafarma.
Nas redes Extra e o Pão de Açúcar, o e-commerce de alimentos registrou um crescimento dos pedidos de 10% por compradores acima de 60 anos entre 2014 e o ano passado. Para este ano, a expectativa é que o crescimento seja de cerca de 30%.
O especialista em varejo Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, confirma que a chegada dos smartphones e de aplicativos de compra, mais fáceis de mexer e que concluem a operação com poucos cliques, ajudaram os mais velhos a quebrarem a barreira que existia entre eles e o mundo digital.
“Resolvida essa questão da cultura digital, você nota que o e-commerce se encaixa ainda mais às necessidades de consumo das pessoas com mais de 50 ou 60 anos. Na compra on-line você não precisa sair de casa, não precisa carregar peso, pode comparar preços sem muito esforço e pode ler com calma as informações de produtos sem se expor, por exemplo, a um atendente sem paciência”, disse Terra.
Conexões cerebrais
Para a psicóloga Silvia Carvalho, o uso da rede pela terceira idade é altamente positivo já que estimula a comunicação e a prática de novas atividades, facilitando estabelecer novas conexões cerebrais: “Quando a idade avança, a tendência é a pessoa repetir o que sabe fazer. A internet é um campo fértil de atividades e aprendizado. É fundamental para a saúde se arriscar em novas habilidades”.
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