A maioria dos europeus nunca teve uma nota de 500 euros nas mãos, e talvez não venha a tê-la.
Para reduzir a comodidade de corruptos, traficantes e terroristas que fizeram dela sua moeda preferida, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, anunciou estudos para retirar essas notas de circulação.
A forma da mudança ainda não foi detalhada, mas, depois de resistir durante anos, o dirigente do BCE parece ter se decidido.
“Queremos fazer mudanças, mas de maneira organizada. Posso assegurar que estamos decididos a que a produção do dinheiro não proporcione nenhuma comodidade aos criminosos”, disse Draghi no Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França), na semana passada.
Autoridades policiais no mundo todo detectaram que as notas de 500 euros, por seu alto valor de face, substituíram há anos os bilhetes de US$ 100 como objeto de desejo de criminosos e corruptores que fazem pagamentos em espécie.
Relatório intitulado “Cash is king” (“O dinheiro vivo reina”), do Europol (Serviço Europeu de Polícia, com sede em Haia, na Holanda), incumbido do intercâmbio de informações dentro da União Europeia, indica que o dinheiro vivo ainda é o instrumento mais usado em atividades criminosas e lavagem de dinheiro.
“Apesar da mudança rápida da face da criminalidade e do aumento dos crimes cibernéticos e das fraudes eletrônicas, os métodos de lavagem de dinheiro continuam sendo majoritariamente os tradicionais, tanto por necessidade como por escolha”, afirma o relatório do Europol.
Segundo os dados da instituição, há cerca de 1 trilhão de euros em circulação. As notas de 500 euros respondem por cerca de 30% do valor total que está disponível para troca de mãos. Mesmo assim, uma pesquisa do BCE indica que 56% dos europeus nunca viram a cor arroxeada de uma nota de 500 euros.
Bin Laden
“Aqui na Espanha, as notas de 500 euros chegaram a ser chamadas de [Osama] Bin Laden, porque todo mundo fala delas, mas ninguém nunca pôs a mão em uma”, conta o advogado Jesús Sánchez Lambás, fundador da Transparência Internacional no país.
No auge do boom imobiliário, em 2006, a Espanha chegou a deter 25% das notas de 500 euros em circulação. Elas viraram símbolo da corrupção, ao aparecerem sempre nos relatos de políticos que confessavam ter recebido envelopes ou malas de dinheiro recheados com notas de 500 euros.
Sánchez acredita que o fim dessas notas criaria uma incomodidade, mas não teria maior impacto.
“Seria uma medida mais cosmética que propriamente algo eficaz. Antigamente, dizia-se que um milhão de pesetas (moeda espanhola anterior ao euro) pesavam um quilo. Um quilo, dois quilos, que diferença faz para o criminoso?”, diz o veterano advogado.
As notas viraram tal sinônimo de suspeição que praticamente não são aceitas no comércio. Na Espanha, só a maior rede de magazines, El Corte Inglés, recebe pagamentos feitos por meio delas.
E não é por medo de falsificação, ao menos não um medo justificado.
Segundo a Europol, as notas de 500 euros respondem por apenas 0,8% dos casos conhecidos de bilhetes forjados. Muito mais comuns são as falsificações de notas de 20 euros (46,5% do total apreendido) e de 50 euros (34,7%).
Parece ser mesmo um dinheiro destinado a ser escondido debaixo do colchão. Ou ingressado em contas em paraísos fiscais. Agora pode estar com os dias contados.
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