A crise que desestruturou o setor elétrico e a dificuldade cada vez maior de tirar projetos hidrelétricos do papel moldaram os planos futuros da Copel na área de geração. Depois do investimento de R$ 5 bilhões em usinas eólicas no Nordeste, a companhia quer triplicar a participação das termelétricas na sua matriz nos próximos cinco anos – número que hoje corresponde a 10% da energia gerada pela empresa. O investimento é mantido em segredo, mas a julgar pela crescente dependência térmica trata-se de uma boa aposta.
A companhia planeja pelo menos três grandes projetos termelétricos que podem aumentar em 1,4 mil megawatts (MW) a sua capacidade de geração térmica. Por ora, o empreendimento de maior envergadura – e em fase mais adiantada – é a construção de uma nova usina a gás em Araucária, na Grande Curitiba, com capacidade de 373 MW, no mesmo local onde está instalada hoje a Usina Elétrica a Gás de Araucária (UEGA), com potência de 469 MW. O faturamento da UEGA – que estava arrendada à Petrobras e voltou ao controle da Copel em fevereiro de 2014 – não deixa dúvidas quanto à viabilidade de um novo negócio. A usina encerrou o ano passado com receita de R$ 2,1 bilhões e lucro líquido de R$ 471 milhões.
Campos de gás
O potencial estimado da Região Centro- Oeste para a produção de gás natural convencional – onde a Copel e mais três empresas arremataram quatro blocos em 2013 – também pode resultar em novos projetos térmicos. Lá, a viabilidade dos investimentos resultaria na construção de uma ou mais usinas térmicas. Todo o processo, por enquanto, está suspenso judicialmente. “Existe uma conversa bem avançada com a Justiça para a retomada dos estudos de prospecção”, revela Jonel Yurk, da Copel.
No entendimento da Copel, este também é momento para tentar tirar do papel o projeto de construção de um terminal de importação de gás natural liquefeito (GNL) em Paranaguá, no Litoral do estado, um plano antigo da Companhia Paranaense de Gás (Compagas), de quem a Copel é sócia majoritária. Com potencial para ampliar substancialmente a oferta do insumo no Paraná, o investimento é visto como condicionante para a construção de duas novas termelétricas na região, cada uma com potência instalada de 400 MW.
“Uma demanda de 10 milhões de metros cúbicos (m³) de gás por dia seria suficiente para viabilizar a construção de um terminal de regaseificação em Paranaguá para receber o GNL importado”, explica Jonel Yurk, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Copel. Pelo cálculo dele, só o mercado atual da Compagas e o consumo das duas térmicas de Araucária (UEGA 1 e 2) somados responderiam por 5,2 milhões de m³ de gás por dia, metade do total necessário. O excedente atenderia a demanda por gás natural no estado, um mercado secundário que, segundo ele, precisa ser estimulado.
O portfólio de projetos térmicos da Copel prevê ainda a construção de uma usina a carvão mineral com capacidade de 200 MW em fase de estudos ambientais no município de Sapopema, no Norte Pioneiro, e a reforma e modernização em curso da térmica de Figueira, na mesma região, com capacidade instalada de 20 MW.
Estatal estuda importar mais gás para resolver escassez do produto
Com exceção das térmicas das cidades de Sapopema e Figueira, movidas a carvão mineral, os demais projetos dependem da ampliação da oferta de gás natural no estado, limitada pela saturação do Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol). Enquanto a construção de um terminal de regaseificação em Paranaguá não sai do papel, a Copel negocia com a Petrobras uma solução para a falta do combustível. O plano é importar gás natural liquefeito (GNL) por meio do terminal de regaseificação da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. “Isso nos daria condições de, em um curto espaço de tempo, colocar a UEGA 2 em operação” diz o diretor de Desenvolvimento de Negócios da Copel, Jonel Yurk.
Mais do que a busca pela sustentabilidade na área de geração, ele ressalta a ameaça real de perda de alguns ativos importantes que vão desfalcar o parque gerador da companhia. “Temos concessões que vencerão em julho, como a da usina Parigot de Souza, com capacidade de 260 megawatts, em Antonina. Precisamos buscar a diversificação. Por isso, o esforço para voltar a crescer em novos projetos de geração”, afirma. (CJ)
Aumento da base térmica dá mais segurança ao sistema elétrico
Projetado para operar apenas em momentos de emergência, o parque térmico caro e poluente salvou o país do racionamento de energia nos dois últimos anos. Para analistas do setor, não há dúvida de que o uso das termelétricas veio para ficar e vai crescer nos próximos anos. Hoje, elas respondem por um terço da geração de energia do país, fatia que era de apenas 7,7% há apenas três anos.
Em 2015, as térmicas devem permanecer acionadas durante todo o ano, garantindo o abastecimento e compensando, com preços altos, o investimento dos geradores. Mas a transição para uma matriz energética mais cara, em função da maior presença das térmicas na geração total de energia do país, carece de mudanças para dar viabilidade a esses investimentos.
Em um cenário de maior equilíbrio hídrico e de outras fontes, o investimento em térmicas perde a atratividade justamente porque se trata de uma fonte mais cara, avalia Fábio Cuberos, gerente de regulação da Safira. A contratação da energia hoje considera, por exemplo, a tarifa mais barata. “Precisamos de um rearranjo nos leilões para que haja venda de energia por tipo de fonte e submercado, priorizando pontos específicos de cada fonte como, por exemplo, a proximidade do mercado consumidor ou a garantia de suprimento. Assim é possível viabilizar esses investimentos e manter a competitividade da fonte”, acrescenta.
Jonel Yurk, da Copel, concorda que os leilões precisam mudar para dar mais segurança aos investidores. (CJ)
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