Um dia após o anúncio de que o crescimento do Produto Interno Bruto(PIB) somou 9% no primeiro trimestre deste ano, contra igual período de 2009, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central continuou pisando no freio do crescimento econômico ao anunciar a elevação da taxa básica de juros de 9,5% para 10,25% ao ano. Com isso, após um ano, a taxa retornou ao patamar de dois dígitos.O aumento de 0,75 ponto percentual nos juros, amplamente esperado pelos economistas do mercado financeiro, é o segundo consecutivo. Em abril, a taxa já havia subido de 8,75% ao ano (piso histórico) para 9,5% ao ano na primeira elevação em 19 meses. E a expectativa dos analistas é de que a taxa continuará sendo elevada nos próximos meses, chegando a 11,75% ao ano no fim de 2010 e a 12% ao ano no início de 2011.
Ao fim do encontro, o BC divulgou a seguinte explicação: "Dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias ao cenário prospectivo da economia, para assegurar a convergência da inflação à trajetória de metas, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 10,25% ao ano, sem viés".
Liderança no ranking mundial de juros reais
A decisão do Copom manteve o Brasil na liderança do ranking mundial de juros reais, calculados após o abatimento da inflação prevista para os próximos 12 meses. Estudo dos economistas Thiago Davino e Jason Vieira mostra que, após o aumento desta quarta-feira, os juros reais brasileiros somam 5,2% ao ano, mais do que o dobro dos 2,4% ao ano registrados pelo segundo colocado (China). Em terceiro lugar, aparece a Indonésia, com juros reais de 2,2% ao ano. Juros altos tendem a atrair capital em busca de remunerações maiores, o que pode contribuir para a queda do dólar.
Contenção da demanda
Ao subir os juros, o BC atua para conter a procura por produtos e serviços. O objetivo seria o de tentar evitar um aquecimento excessivo da economia, que poderia gerar "gargalos" de logística (falta de mão-de-obra ou de infraestrutura adequada) e um subsequente crescimento da inflação - que penaliza principalmente os mais pobres. Nesta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que fará "qualquer coisa" para não deixar a inflação voltar.
O anúncio dos dados do PIB confirmou a previsão de analistas do setor privado de que a economia estaria crescendo a um "ritmo chinês". Mesmo com o forte crescimento dos investimentos, de 7,4% sobre os três últimos meses de 2009, dados divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que o nível de uso do parque industrial chegou a 83% em abril, retornando ao patamar pré-crise e próximo ao recorde de 83,8% - registrado em fevereiro de 2008. O temor é de que, com o alto nível de uso das fábricas, haja remarcação de preços.
Apesar do forte ritmo do primeiro trimestre deste ano, indicadores antecedentes do nível de atividade já começam a demonstrar perda de dinamismo na economia brasileira. A produção de papel ondulado, utilizado para embalagens, teve queda de 1,2% em maio deste ano, na comparação abril. Ao mesmo tempo, o consumo de energia também teve retração de 1,2% no mês passado - o que também sugere arrefecimento no ritmo expansão econômico.
Meta de inflação
O Banco Central calibra a taxa de juros para que a inflação convirja para a meta central de 4,5% fixada pelo governo para 2010 e 2011. Pelo sistema de metas, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Dados do IBGE divulgados nesta quarta-feira mostram que o IPCA somou 0,43% em maio deste ano, o menor de 2010. De janeiro a maio, a inflação acumula alta de 3,09%, acima da taxa de 2,2% relativa a igual período de 2009. Em 12 meses, o indicador acumula variação de 5,22% - acima do centro da meta de inflação do BC para este ano, de 4,5%.
Mesmo com a queda da inflação em maio, o valor ficou bem próximo à previsão dos analistas do mercado financeiro para o mês passado. Para todo este ano, a expectativa dos economistas para o IPCA está em 5,68%, também acima, portanto, da meta central de 4,5%.