O Banco Central admitiu que a situação do mercado financeiro global não é das melhores. Na ata da reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta quinta-feira (18), os diretores afirmam que "a percepção de risco sistêmico permanece elevada". Vale lembrar que o texto foi concluído na última quarta-feira (dia 10), antes da forte deterioração dos mercados financeiros ocorrida esta semana.

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Segundo o BC, esse risco sistêmico acontece porque, até a semana passada, os diretores avaliavam que "os problemas financeiros vêm sendo agravados por uma deterioração cíclica na qualidade do crédito". Essa piora "tende a reforçar a contração das condições financeiras e, por conseguinte, o risco de intensificação da desaceleração".

Diante desse quadro, a ata afirma que "a intervenção do governo dos Estados Unidos em grandes empresas de financiamento imobiliário pode ser vista como condição necessária, mas provavelmente não suficiente, para a superação da crise". O BC admitia, na quarta-feira da semana passada, que "no caso dos EUA e, em menor medida, da Europa" havia uma "severa crise financeira".

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Ainda no que diz respeito aos EUA, a ata afirma que "mesmo depois de um significativo reforço da base de capital de instituições financeiras relevantes, permanece a incerteza sobre a extensão e a amplitude dos desdobramentos da crise hipotecária americana sobre o sistema bancário nos EUA e na Europa, bem como quanto ao impacto que estes terão sobre as condições de acesso ao crédito por parte de empresas e famílias nessas regiões".

No documento, o comitê diz ainda que o cenário externo tem gerado sinais conflitantes. Os diretores afirmam que há "sinais mais nítidos de desaceleração acompanhados por taxas de inflação ainda elevadas". Nesse trecho, o grupo afirma que "a visão dominante continua apontando para a expansão, em ritmo moderado, da economia mundial em 2008 e em 2009".

Eles lembram, porém, que dados divulgados nas últimas semanas apontam para "um enfraquecimento mais intenso da atividade nas economias maduras". Essa desaceleração acontece principalmente na região do euro (15 países europeus que compartilham a moeda), Reino Unido e Japão. No caso específico dos Estados Unidos, até a semana passada, o BC brasileiro avaliava que "estímulos fiscais e monetários vinham sustentando a atividade". Mas que, apesar disso, foram detectados "sinais de debilitação nas últimas semanas".

Emergentes

A ata do Copom menciona ainda que as perspectivas para a política monetária nos países emergentes "tornaram-se ainda mais complexas", diante da depreciação de diversas moedas, não apenas de exportadores de commodities, em relação ao dólar americano. Nessa avaliação, o BC analisa o agravamento e os desdobramentos da situação econômica internacional, à luz da crise financeira americana.

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O documento sobre a última reunião voltou a dizer que o desempenho das economias emergentes, que segundo o BC parecem ter sido afetadas de forma limitada pela crise até agora, constitui-se um "contraponto" à perda de dinamismo das economias maduras, que estão no epicentro da crise financeira.

O Copom também destacou na ata que as políticas de redução de vulnerabilidade externa da economia brasileira têm se mostrado bem sucedidas, ajudando a mitigar, ainda que não eliminem, o impacto da crise externa no Brasil.

Petróleo e gasolina

Os diretores do BC observam ainda que os preços do petróleo "continuam altamente voláteis, mas recuaram de forma expressiva desde a última reunião do comitê". O encontro anterior havia sido em 22 e 23 de julho. Para os membros do Copom, as cotações no mercado futuro de petróleo e o consenso das projeções do setor "sugerem que os preços do petróleo poderiam se estabilizar em níveis próximos aos atuais".

Sobre o impacto desse ambiente no mercado brasileiro, o Copom manteve a previsão de preços estáveis da gasolina no acumulado de 2008. "A despeito da considerável incerteza inerente às previsões sobre a trajetória dos preços do petróleo, o cenário central de trabalho adotado pelo Copom, que prevê preços domésticos da gasolina inalterados para o acumulado de 2008, permanece plausível", cita o texto.

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O BC observa, contudo, que mesmo com preços inalterados na bomba de gasolina, o comportamento do petróleo no mercado internacional se reflete na economia brasileira "tanto por meio de cadeias produtivas, como a petroquímica, quanto pela deterioração que podem terminar produzindo nas expectativas de inflação dos agentes econômicos".

Na ata, o BC manteve ainda a expectativa de reajuste zero no acumulado de 2008 para a gasolina e gás de cozinha. Para as tarifas de energia elétrica e telefonia fixa permaneceram inalteradas as previsões de aumento para o acumulado de 2008, em 1,1% e em 3,5%, respectivamente.

Por fim, o comitê também cita que a projeção para o aumento dos preços administrados - as tarifas públicas - para o acumulado de 2008 foi mantida em 4%. Para 2009, a expectativa é que a alta seja de 4,8%, número idêntico ao da semana passada.