Retração: Bolsa acumula três anos seguidos de queda| Foto: Yasuypshi Chiba/ FAP

Três anos seguidos de queda da Bolsa, aperto nos juros e pagamento de dívidas antigas estão cobrando seu preço às corretoras brasileiras. Levantamento feito com base nos balancetes trimestrais submetidos pelas instituições ao Banco Central mostra que, entre as 40 maiores corretoras e distribuidoras de valores mobiliários do Brasil em patrimônio líquido, 15 acumularam prejuízo entre janeiro e setembro de 2015.

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O levantamento considerou apenas empresas independentes (que não integram grupos bancários) e que apresentaram todos os balancetes desde o início de 2014.

A corretora com a maior perda é a Gradual, com prejuízo acumulado de R$ 37,34 milhões. Depois vem a Souza Barros, com perdas de R$ 32,64 milhões. Em agosto, essa sangria levou ao fechamento da corretora, que era a mais antiga em atividade no Brasil após 87 anos no mercado.

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Alternativa

Muitas corretoras passaram a oferecer letras de crédito (LCA e LCI), títulos do tesouro e CDBs. Essa reorientação se intensificou em 2015, ano em que a Bolsa caiu 13,3% e os juros básicos saltaram para 14,25%. Enquanto o número de pessoas físicas na Bolsa terminou novembro em 583 mil, no Tesouro Direto, a quantidade de investidores saltou 33% apenas em 2015, atingindo 604 mil em novembro.

Outro prejuízo importante foi o da Spinelli, que perdeu R$ 19,8 milhões de janeiro a setembro. “As corretoras estão muito dependentes de ações. Se a Bolsa cai, ficam em situação difícil”, disse Marcelo Verdini Maia, superintendente da FGV Management no Rio.

De acordo com Caio Villares, presidente da Ancord, associação que reúne as corretoras e distribuidoras, vários fatores explicam a crise. Um deles é o impacto da adesão ao Refis, programa de refinanciamento de débitos tributários sobre impostos devidos pelas corretoras desde 2007. Na época, houve a conversão de títulos patrimoniais que detinham em ações da Bovespa e da Bolsa de Mercadorias (BM&F), processo que resultou na criação da BM&F Bovespa, em 2008. Para o Fisco, as instituições tinham que pagar impostos sobre os ganhos com a venda das ações.

Em janeiro de 2015, uma lei abriu a possibilidade de renegociação da dívida com descontos. As empresas tiveram que desembolsar o montante no ano passado. Mas Villares reconhece que é apenas parte do problema. “Vivemos um momento macroeconômico adverso para o mercado de capitais, e as corretoras têm relação muito próxima ao comportamento do setor. Em um ano que não teve aberturas de capital na Bolsa, fica muito clara essa debilidade. Mas o principal problema é o nível dos juros, que são imbatíveis”, reforça.

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