“Temos projetos parados em segmentos de muito potencial. Mas o custo de um molde para testar o mercado inviabiliza o investimento.” Luís Felipe Morgado, diretor comercial da Plastilit| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

5 passos para os investimentos decolarem

Com a ajuda de especialistas, foram eleitos cinco pontos centrais de atuação para aumentar os investimentos. A lista começa com a necessidade de elevação da poupança nacional no longo prazo para que haja recursos para financiamentos (o que deve se refletir em uma taxa de juros mais baixa) passa pela reforma tributária, uma melhor regulação para viabilizar grandes projetos, modernização da gestão pública e educação. Essas áreas estão de acordo com as necessidades apontadas por empresas e pequenas melhorias podem fazer com que o investimento no país suba nos próximos anos.

Leia a matéria completa

CARREGANDO :)
Brasil precisa de mais investimentos para que a economia cresça de maneira sustentada
CARREGANDO :)

O Brasil mal saiu de uma recessão que levou a uma retração de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) e muitos analistas já falam em superaquecimento, risco de inflação e na necessidade de elevação da taxa básica de juros. Não é alarmismo. O país tem dificuldades para sustentar um crescimento acima de 5%, como o previsto para 2010, e por isso já aparecem no radar medidas para esfriar a economia. A maior limitação ao crescimento é hoje a taxa de investimento, insuficiente para modernizar a infraestrutura, construir fábricas e criar inovações na velocidade necessária para o Brasil manter a expansão do PIB entre 5% e 6% ao ano.A taxa de investimento brasileira passou mais de duas décadas em um nível inferior a 20% do PIB. O porcentual vinha subindo até 2008, quando bateu em 18,6%, mas a crise fez com que muitos projetos fossem adiados, o que levou a uma retração na taxa para 16,7% do PIB. O valor é adequado para países desenvolvidos, onde a infraestrutura está construída, a população parou de crescer e já tem atendidas suas necessidades de consumo. Países emergentes geralmente precisam de um esforço maior para construir fábricas, rodovias e portos. A China, por exemplo, investe anualmente mais de 40% do PIB, enquanto a Coreia do Sul aplicou 28% do PIB no ano passado, mesmo com a crise.Nem sempre o investimento é o fator primordial para uma economia crescer. Há casos em que ele existe, mas os retornos são baixos (o que é comum quando há uma apropriação da produção pelo Estado), ou em que há outras prioridades – como o controle da inflação e o fim do câmbio fixo no Brasil dos anos 90. Mas a economia brasileira dá sinais de que este é um momento único, em que é preciso aproveitar a estabilidade e apostar no crescimento para que continue o processo de criação de uma classe média ampla. Investimentos entre 22% e 25% do PIB são essenciais para isso, segundo economistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

"Para atingir um patamar mais alto de crescimento, o país precisa investir mais. Calculamos que investimentos entre 23% e 24% do PIB elevariam nosso potencial de crescimento para 5,5% ao ano", diz a economista Luiza Rodrigues, do banco Santander. "Sem isso, o crescimento precisa ser diminuído à força." É o que o Banco Central faz quando eleva a taxa básica de juros ao perceber que o aumento da demanda é mais rápido que o potencial de crescimento da economia, cujo resultado é a aceleração nos preços. E o mercado já dá como certa uma elevação dos juros neste mês, em resposta a uma inflação que nos últimos 12 meses acumula uma alta de 5,1%.

Publicidade

Empresas

Existem dezenas de fatores associados à baixa taxa de investimento, em uma fórmula que envolve os suspeitos de sempre: taxas de juros e carga tributária altas, e infraestrutura ruim. Estes são os problemas que estão na ponta da língua de empresários, hoje responsáveis por 90% dos investimentos feitos no país. "Fora do BNDES, os juros são muitos altos. Para comprar equipamentos importados, por exemplo, temos de recorrer a linhas de bancos privados e isso eleva o custo de investir", diz Ademar Ferreira, administrador da Quanta Diagnóstico Nuclear, que gastou R$ 8 milhões para construir e equipar uma unidade em Curitiba.

A reclamação sobre os juros só não é maior justamente porque o BNDES oferece linhas a taxas subsidiadas pelo contribuinte – afinal, o Tesouro paga juros em torno de 8,75% ao ano (a taxa Selic) para injetar recursos no banco, que oferece linhas com taxa de 4,5% ao ano.

"Conseguimos recursos do BNDES para investir. Mas o custo do projeto desde o começo é influenciado pela alta carga tributária. Pagamos imposto mesmo antes de produzir", reclama Paulo César Thibes, diretor da Frangos Pioneiro, um abatedouro localizado em Joaquim Távora, no Norte Pioneiro, e que no momento toca um projeto de expansão orçado em R$ 35 milhões.Luís Felipe Morgado, diretor comercial da Plastilit, uma fabricante de tubos e conexões de Curitiba, ressalta que, apesar de haver linhas do BNDES para financiar a compra de máquinas, a empresa ainda sente falta de recursos para bancar a pesquisa e desenvolvimento de produtos. "Temos projetos parados em segmentos de muito potencial, como a substituição da madeira pelo plástico. Mas o custo de um molde para testar o mercado inviabiliza o investimento", explica.

Outro problema apontado por Morgado é a dificuldade logística de vender para algumas regiões do país – o que é importante para competir com empresas maiores. "Levamos 60 dias para entregar mercadorias em algumas áreas da Região Norte. Fora o custo normal de transportar pelas estradas ruins de alguns estados", conta.

Publicidade

Prioridades

A busca de uma taxa acelerada de crescimento é uma espécie de dieta. Na economia, o balanço, ao invés de levar em conta carboidratos e proteínas, é entre o consumo e o investimento. Se o primeiro cresce mais rápido que o segundo, as fábricas passam a trabalhar perto do limite e o país tem de importar mais. É como se o país estivesse abusando de açúcar.

Como em qualquer dieta, não existe solução mágica para a mudança de hábitos. "É necessária uma combinação de melhora no ambiente de negócios e aperfeiçoamento da gestão pública", diz o economista Antônio Lanzana, professor da Universidade de São Paulo e da Fundação Dom Cabral. Essas melhoras teriam de elevar o volume de recursos disponíveis para investimentos, reduzir os riscos para os empreendedores e elevar o gasto público com infraestrutura e educação.