O ministro Cid Gomes (Educação) subiu o tom em discurso na Câmara dos Deputados e criticou o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), alvo de inquérito na Operação Lava Jato. Para Gomes, é melhor ser “acusado de mal-educado” do que “acusado de achaque”.
Cid Gomes foi convocado a prestar esclarecimentos à Casa após declaração de que a Câmara possui “uns 400 deputados, 300 deputados” achacadores. “Eles querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas”, disparou o ministro em agenda em Belém, no final de fevereiro.
O ministro, nesta quarta-feira (18), pediu perdão pela frase e ressaltou que a fala foi dita num “lugar reservado”, onde foi feita uma “gravação não autorizada, que não reflete minha opinião pública”.
Eduardo Cunha se irritou com a fala de Cid Gomes e articulou a convocação do ministro para que explicasse a frase. Na ocasião, o chamou de “mal-educado”. “Um governo que tem como lema ‘Pátria Educadora’ não pode ter um ministro da Educação mal-educado”, disse, no início de março.
Nesta quarta, o ministro contra-atacou. “Eu fui acusado de mal-educado [por Eduardo Cunha]. O ministro da Educação é mal-educado. Pois muito bem: prefiro ser acusado por ele [Cunha] de mal educado, do que ser como ele acusado de achaque”, afirmou, apontando para o presidente da Câmara. A frase é uma referência à delação do doleiro Alberto Youssef, que acusou Cunha de, por meio de aliados, apresentar requerimentos para pressionar uma empresa a pagar propina.
Em sua fala, ele ainda fez críticas à falta de lealdade da base aliada em votações no Congresso e ressaltou que, caso queiram manter essa postura, que “larguem o osso” e, assim, deixem os cargos no governo da presidente Dilma Rousseff.
“Tenho, sempre tive e terei profundo respeito pelo Parlamento. Isso não quer dizer que concorde com a postura de alguns, de vários, de muitos, que mesmo estando no governo (...) têm uma postura de oportunismo”, disse, gerando gritos na plateia.
Autor do requerimento da convocação, o líder do DEM Mendonça Filho (PE) ironizou: “Criou-se uma situação tão desmoralizante para a base do governo que é literalmente inacreditável. Não precisamos de oposição nesta Casa. Este governo produz uma crise por dia.”
A fala de Cid Gomes ocorre em um momento delicado quando o governo tenta reduzir as tensões com o Congresso para aprovar o ajuste fiscal, que é criticado tanto por parlamentares da base quanto da oposição.
Ele defendeu o ajuste fiscal e afirmou que é fundamental que todos, neste ano, “apertem o cinto”. Assim, será possível ao governo recuperar sua credibilidade no mercado, ressaltou. O MEC vem sendo alvo de críticas devido ao aumento do rigor para acesso ao Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).
A sessão, agendada para a semana passada, não ocorreu devido ao quadro de saúde do ministro. Gomes pediu o adiamento da convocação após ser internado no hospital Sírio-Libanês, com suspeita de pneumonia.
Cid Gomes questionou decisão da Câmara de enviar grupo de parlamentares ao hospital Sírio-Libanês, onde estava internado, para averiguar seu real estado de saúde. Devido ao quadro de saúde do ministro, foi adiada a convocação para prestar esclarecimentos à Câmara, inicialmente agendada para a semana passada.
“Eu peço a esta Casa que examine quem custeou as despesas desses deputados que foram lá, porque ao que me consta não houve aprovação regimental, ao que me consta não houve aprovação pelo plenário”, disse ele.
Cunha, logo em seguida, rebateu Gomes: “Gostaria de dizer clara e textualmente: o requerimento que foi mandada a comissão foi feito sem ônus para a Casa, às expensas dos parlamentares, porque essa Casa se dá ao respeito”.
As declarações de Cid motivaram forte reação dos congressistas que acompanham a sessão. Houve gritos acusando o ministro da Educação de “debochado” e discursos críticos a sua postura. “Dê os nome dos 300, 400, quantos forem, que praticaram crime, que achacaram. É muito fácil fazer críticas vazias, levianas, e não querer por elas responder ou ter consequências”, disse o deputado Leonardo Picciani (RJ), líder do PMDB na Casa.
O líder do Pros na Casa, Domingos Neto (CE), tentou apaziguar os ânimos. “O que parece que está acontecendo é o que por diversas vezes assistimos aqui: interesses entre parte da base e oposição de poder trazer para estas tribunas as discussões que possam levar a prejuízo do governo federal”.
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