Fábrica da Natura, em Belém: empresa deve manter % do faturamento líquido à inovação.| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

Com quase dois anos de recessão e um quadro de estagnação nos investimentos, as empresas brasileiras estão apenas mantendo os gastos com inovação. E, no futuro, podem vir a diminuir os porcentuais caso as expectativas pessimistas no cenário econômico se confirmem ao longo dos próximos meses.

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Pesquisa da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) mostra que um menor número de companhias lançou novos produtos ou processos no mercado. Segundo o levantamento, a taxa de previsão de investimentos em inovação no curto prazo entre as indústrias entrevistadas atingiu um dos patamares mais baixos desde 2012.

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De acordo com dados da ABDI, 48,1% das indústrias declararam ter realizado algum tipo de inovação tecnológica no terceiro trimestre de 2015, número 1,7 ponto porcentual menor do que o observado no período anterior.

A expectativa das companhias em destinar recursos para inovar está em queda desde 2012. Para o quarto trimestre do ano passado, 50,9% dos entrevistados afirmaram ter pretensão de fazer investimentos – o índice, para os primeiros três meses de 2012, era de 64,8%.

Os indicadores de inovação estão diretamente ligados ao nível de atividade econômica do país. Com a redução nas taxas de crescimento, a demanda cai, a produção diminui e as empresas tendem a cortar investimentos. A área de pesquisa e desenvolvimento (P&D) costuma ser bastante prejudicada, já que os custos com inovação são altos, assim como os riscos de o resultado esperado não ser alcançado.

O presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras e vice-presidente de inovação da Natura, Gerson Valença Pinto, diz que o momento é de cautela para investir, pois as empresas têm sofrido bastante com o aumento de custos e tributos. “Mas, com relação à inovação, ela tem um papel muito importante neste momento de crise”, completa.

Ele diz que programas de médio e longo prazo estão sendo desafiados, mas as companhias que visam crescer estão mantendo investimentos que tragam aumento de produtividade e facilitem a entrada em novos mercados. “Custa caro deixar de investir em inovação”, diz.

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O momento é de encontrar os focos de prioridade e o melhor balanço entre investimento de curto, médio e longo prazo.”

O momento é de encontrar os focos de prioridade e o melhor balanço entre investimento de curto, médio e longo prazo.”

Gerson Valença Pinto Vice-presidente de inovação da Natura

Na Natura, 3% do faturamento líquido para investimento em inovação deve ser mantido neste ano. A empresa foca em preservar os custos que tragam competitividade, como melhora nos serviços para as consultoras e novos modelos comerciais. Na metade deste ano, por exemplo, a companhia vai lançar uma loja multicanal em São Paulo, que integrará as experiências de compra off-line e on-line.

Projetos não devem parar

Especialistas são contundentes ao defender que os investimentos inovação devem ser mantidos, mesmo em um cenário econômico adverso. O gerente do Centro Internacional de Inovação do Senai no Paraná, Filipe Cassapo, explica que as companhias precisam se preparar para a retomada do crescimento, bem como agregar valor aos clientes já existentes.

Novos mercados

Um dos caminhos para inovar é buscar novos mercados. Segundo o presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras, Gerson Valença Pinto, o momento é adequado para buscar o mercado exterior. Para conseguir bons resultados, as empresas precisam manter os investimentos em inovação para competir globalmente.

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O presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras, Gerson Valença Pinto, diz que projetos de inovação pedem continuidade e não devem ser interrompidos.

Uma empresa que seguiu as recomendações e conseguiu sentir menos os impactos da crise é a Dublauto Gaúcha, que fabrica produtos da área têxtil para calçados. Os investimentos em projetos de inovação começaram em 2006, quando a indústria sofreu com a entrada dos produtos chineses no mercado.

Para garantir um diferencial competitivo, a indústria do Rio Grande do Sul investiu em nanotecnologia aplicada aos tecidos de calçados. As pesquisas garantiram nove patentes à fábrica, que ampliou sua linha de produtos. Hoje, essa nova linha corresponde a 30% do faturamento, que foi de R$ 5 milhões em 2015.

“A inovação é lenta. As pesquisas são caríssimas e há o desafio de repassar as vantagens para o consumidor final, que tem que perceber e pagar mais por isso”, diz Evandro Daniel Wolfart, diretor da Dublauto. Neste ano, a empresa pretende vender seus produtos tecnológicos a países da América do Sul – mais uma forma para contornar a crise.