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Turbulência

Crise econômica se agrava com "coleção" de indicadores negativos

Se existiam dúvidas de que a economia mundial estava em crise, indicadores divulgados nesta semana mostraram que a turbulência está longe de terminar – e, pior ainda, seu tamanho ainda é desconhecido.

Nas novas estimativas de crescimento do Fundo Monetário Internacional (FMI), não foi apenas a expectativa de crescimento para a economia mundial em 2009 que diminuiu, passando de 2,2%, na projeção de outubro, para 0,5%, em janeiro.

O fundo revisou para cima a estimativa de perdas com a crise – de US$ 1,4 trilhão para US$ 2,2 trilhões. Isso, segundo economistas, é um indicativo de que a crise pode ser mais longa que o esperado: quanto maior o buraco, mais difícil é sair dele.

Para o economista Frederico Turolla, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e sócio da consultoria Pezco, o aumento da projeção é um desafio para os governos, que devem gerar fortes déficits por conta dos pacotes de ajuda ao setor privado.

"Sabe-se que as perdas são muito grandes, mas a magnitude real da crise é desconhecida. Hoje, a expectativa de recuperação em 2010 são apenas é mais uma esperança (do que uma possibilidade concreta)", diz Turolla, referindo-se ao FMI, que prevê crescimento de 3% para o PIB mundial em 2010.

"Coroando" a semana, na sexta-feira (30), vieram os resultados do PIB norte-americano de 2008. O país cresceu 1,3% em 2008, mas a economia teve retração de 3,8% no 4º trimestre. No 3º trimestre, a queda foi revisada para 0,5%, na comparação com 2007.

Países em desenvolvimento

A previsão do FMI para crescimento de todos os países foi revisada para baixo, com a expansão do Brasil sendo reduzida pela metade no mesmo período. Antes, o Fundo previa que o país cresceria 3,5%; agora, a expectativa é de 1,8%.

Em outras nações, a redução foi ainda maior, o que aumentou o número de economias que entrarão em recessão neste ano. A lista inclui, além de países desenvolvidos, como EUA, Reino Unido e Japão, também nações em desenvolvimento, como México e Rússia (veja mapa acima).

"O Brasil tem a vantagem de ter aumentado sua competitividade nos anos 90, enquanto o México tem grande dependência dos EUA e a Rússia dependia do petróleo (que perdeu muito de seu valor em 2008) para garantir superávits", ressalta o professor da ESPM.

Emprego

Os dados corporativos mostraram que a onda de demissões tomou conta de grandes empresas pelo mundo.

Somente na última segunda-feira (26) diversos conglomerados mundiais – entre eles a fabricante de máquinas Caterpillar, o laboratório Pfizer, a empresa de tecnologia Phillips e o banco ING – anunciaram mais de 70 mil demissões em um só dia.

Ao longo da semana, outros grandes grupos mundiais, como Starbucks, Kodak, Ford, General Motors e Toshiba, entre outros – também anunciaram resultados abaixo do esperado. Na maior parte dos casos, lucro e receitas menores significam também corte de pessoal.

Essas reduções já se refletem nos índices de desemprego dos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, nunca houve tanta gente vivendo do seguro-desemprego – em janeiro, eram 4,8 milhões de beneficiários. Na Alemanha, a taxa de desocupação chegou a 7,8%, número acima do esperado.

Acordos

Segundo economistas, o Brasil e a América Latina devem ser, ao longo dos próximos meses, afetados por notícias semelhantes. De acordo com estudo Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 50 milhões de vagas podem fechar na região por conta da crise econômica.

Pelo país, acordos entre patrões e sindicatos permitiram a redução de jornada de trabalho e de salários em troca da manutenção do emprego. Na autopeças Sabó, em São Paulo, o valor dos rendimentos dos empregados vai cair 12% em troca de estabilidade de 180 dias. Empresas como a gaúcha Random e a paulistana MWM Motores também fecharam acordos parecidos.

A "gigante" Vale do Rio Doce, que emprega milhares de pessoas em diversos estados do país, está buscando um programa de licença remunerada com corte de 50% do salário. Segundo a empresa, alguns sindicatos de mineradores de todo o país já aceitaram a proposta, cuja abrangência deve aumentar na próxima semana.

Para o economista da ESPM, os impactos da crise serão cada vez mais visíveis no mercado de trabalho. A Pezco prevê, segundo Turolla, que a taxa de desemprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atinja 9,1% no fim de 2009, contra 6,8% de dezembro último.

Novos pacotes

Enquanto o tamanho da crise cresce, os governos tentam buscar alternativas aos problemas que ela traz. O governo Barack Obama aguarda a aprovação do Senado americano para injetar mais US$ 800 bilhões na economia, enquanto a Alemanha anunciou a intenção de lançar um plano de 50 bilhões de euros.

Uma proposta ainda não confirmada pela administração Obama é a criação do chamado "bad bank", que retiraria do mercado os títulos podres – de tomadores inadimplentes –, buscando um acordo para receber os débitos.

De acordo com economistas, essa instituição ajudaria a aumentar a confiança do mercado, pois traria transparência ao tamanho do rombo na economia americana. Além disso, as instituições ficariam mais propensas a fazer empréstimos interbancários, pois a desconfiança sobre a exposição de outras empresas aos títulos sem liquidez seria reduzida.

"De todas as medidas que o governo americano tomou até agora para ajudar a debelar a crise essa da criação do "bad bank" é a melhor. (...) Ainda o mercado sofre um trauma de desconfiança, um banco não confia que realmente o outro está totalmente limpo", ressaltou o economista Roberto Paschoali, em entrevista à "Globo News" nesta semana.

A exepectativa é tanta que, na sexta-feira (30), as bolsas de valores norte-americanas caíram por conta de uma reportagem da rede "CNBC" afirmar que a proposta da criação do "bad bank" poderia não virar realidade.

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