O aumento da taxa de juros é uma das conseqüências da crise econômica mundial, que veio para ficar, embora ainda não se saiba por quanto tempo. A afirmação foi feita pelo diretor executivo da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, Miguel de Oliveira. Segundo ele, o consumidor brasileiro já sente os efeitos da crise.
"O primeiro é que o brasileiro que depende de crédito, aquele que vai comprar a casa, o automóvel, a geladeira, a bicicleta, efetivamente já está com dificuldades de acesso ao crédito", disse Oliveira, em entrevista à Rádio Nacional. Os bancos estão mais seletivos e restritivos alguns até paralisando totalmente esse tipo de operação, outros exigindo que o consumidor dê entrada maior. "Ou seja: os bancos passaram a ser muito mais cuidadosos na liberação dos financiamentos", acrescentou.
Ele destacou também o aumento no custo do crédito e a diminuição dos prazos. "O brasileiro hoje está pagando mais caro, seja no cheque especial, no cartão de crédito, no empréstimo bancário, na compra de um automóvel, de uma geladeira todos os tipos de empréstimo, tanto para pessoa física como para empresas, estão mais caros."
Além disso, percebe-se que os prazos estão mais curtos. "Até questão de 15 dias atrás, o consumidor podia comprar um carro no prazo de 72 meses. Hoje o prazo é de 60 meses." Para Oliveira, os sintomas da crise já são visíveis. Grandes montadoras de veículos deram férias coletivas a seus funcionários, quando o normal para essa época do ano é aumentar a produção, exemplificou.
Outra problema é o adiamento dos planos de investimentos pelas empresas. "Muitas empresas, por conta da crise e por falta de crédito, começaram a adiar planos de investimento. Aquela fábrica ou aquela loja que iria montar uma filial deixou de fazer, adiou esse processo. E, quando ela adia, ela deixa de contratar novas pessoas. Então, por enquanto, a crise não gerou desemprego, a criação de empregos é que ficou difícil".
O economista aconselha o consumidor a ser cauteloso: "Se puder, adie o máximo a compra a prazo, pois os juros subiram. Se comprar agora, durante o período financiamento, vai pagar a taxa de hoje e, se daqui a dois meses a taxa cair, ele não se beneficia." Entretanto, se tiver que recorrer ao financiamento, o consumidor deve pesquisar muito, porque a variação de juros é muito grande. "Para esses, eu diria o contrário: Apressem-se, porque não sabemos se as condições de crédito estarão piores daqui a dois meses."
Oliveira acredita que a situação poderá melhorar quando o pacote de ajuda aprovado pelos Estados Unidos na semana passada for liberado e os US$ 850 bilhões entrarem no mercado.