A crise na Grécia e a incerteza sobre a possibilidade de o país deixar a zona do euro provocou perdas generalizadas nesta segunda-feira (14). O principal índice da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (Bovespa) paulista fechou o pregão desta segunda-feira (14) com a maior queda em quase oito meses e atingiu o menor patamar de fechamento do ano, com temor sobre o impacto de eventual saída da Grécia da zona do euro para a crise da região.
O Ibovespa fechou em queda de 3,21%, a 57.539 pontos. Esse é o menor patamar de fechamento desde 29 de dezembro, de 56.754 pontos. Foi também a maior queda diária desde 22 de setembro, quando caiu 4,83%. O giro financeiro do pregão foi de R$ 6,32 bilhões.
"Na Europa, além da Grécia em si, o que preocupa é o possível contágio da situação grega para outros países como Espanha", afirmou Marc Sauerman, que ajuda a gerir R$ 650 milhões na JMalucelli Investimentos.
O presidente grego dará continuidade aos esforços para formar um governo de coalizão na terça-feira, na tentativa de evitar novas eleições no país, após o pleito inconclusivo realizado no último dia 6.
No entanto, o partido radical de esquerda Syriza disse que manterá posição contra o resgate internacional.
Também na terça-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, se reunirá com o novo presidente da França, François Hollande, crítico das políticas de austeridade defendidas por Merkel e defensor de medidas expansionistas para lidar com a crise.
No fim de semana, o partido de Merkel sofreu "amarga" derrota em eleição em um estado crucial para os rumos políticos da Alemanha.
"A política europeia não é mais tão clara como era antes das eleições na França, agora você tem a Merkel de um lado e Hollande do outro, e ainda não está claro para os investidores qual vai ser a posição do Hollande", disse Sauerman. "Essa será uma semana de alta volatilidade, com tendência de queda."
Na manhã desta segunda-feira, o dado de produção industrial na Europa mostrou recuo inesperado em março, em mais um sinal de que a recessão na zona do euro pode não ser tão branda como esperada. Investidores aguardam agora o PIB do primeiro trimestre da região, que será divulgado na terça-feira.
O clima de elevada aversão ao risco levou investidores a fugirem dos mercados acionários no mundo todo. Nos Estados Unidos, o Dow Jones recuou 0,98%. Mais cedo, o principal índice dos mercados europeus fechou em baixa de 1,79%.
No Ibovespa, o dia foi de perdas generalizadas, com apenas dois - Ambev e Souza Cruz dos 68 ativos que compõem o índice fechando no campo positivo.
Entre as blue chips, a preferencial da Vale recuou 1,68%, a R$ 37,36, enquanto a preferencial da Petrobras caiu 2,22% , a R$ 18,90. OGX teve queda de 3,97% , a R$ 13,05 reais.
A ação da Brookfield derreteu na sessão e fechou em queda de 14,87%, a R$ 4,18. Esse é o menor preço desde julho de 2009, após a incorporadora ter reportado queda de 94% no lucro do primeiro trimestre, com revisão de custos de obras.
PDG Realty foi a segunda maior baixa da sessão, com queda de 10,15%, a R$ 4,07. Na última sexta-feira, a companhia informou a renúncia de dois diretores, Michel Wurman e Frederico Marinho Carneiro da Cunha.
Dólar
O cenário de forte aversão ao risco nos mercados aliado a um movimento de especulação, com investidores testando patamares mais elevados do dólar, fez a moeda norte-americana fechar com alta de quase 2% nesta segunda, encostando no patamar de R$ 2.
O dólar fechou o dia com valorização de 1,73%, cotada a R$ 1,9899 na venda, na maior valorização diária desde o dia 12 de dezembro passado, quando subiu 1,24%.
Durante o dia, a moeda chegou na máxima de R$ 2,0030, subindo 2,40%, o maior patamar intradia desde 13 de julho de 2009, quando a divisa bateu R$ 2,0110.
"O mercado foi testar os R$ 2, parece que houve alguma especulação. O dólar subiu bem na hora do almoço, em um horário vazio, e depois desceu rápido", disse o operador de câmbio da B&T Corretora de Câmbio, Marcos Trabbold.
Para ele, com essa alta e um movimento especulativo, aumentou a possibilidade de o Banco Central atuar no mercado cambial por meio de venda de dólares ou leilões de swap cambial tradicional -- que equivale a uma venda da moeda no mercado futuro -- para tentar conter essa valorização excessiva do dólar.
"Acredito que o BC deve fazer alguma coisa para conter essa valorização especulativa. Só a nossa moeda que está subindo tudo isso", afirmou.
Desde o que o dólar atingiu R$ 1,90, há dez dias, o BC não atuou mais comprando dólares no mercado à vista. Frente a uma cesta de moedas, o dólar registrava valorização de cerca de 0,50%.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, no entanto, afirmou nesta segunda-feira que a alta do dólar beneficia a indústria brasileira diante da concorrência mais acirrada de produtos importados, e que o governo nunca estabeleceu parâmetro para a moeda norte-americana, nem vai estabelecer.
Futuro incerto
Para Trabbold, está difícil estabelecer uma tendência para a moeda, já que há a possibilidade do dólar continuar subindo ante o real com o mercado externo nervoso, mas também é possível que possa ocorrer uma correção em breve, já que o dólar já subiu muito nesta segunda-feira.
"Se lá fora continuar esse nervosimo, pode bater os R$ 2 de novo, mas como os mercados já estão há muito tempo negativos, uma hora podem reverter", afirmou.
Para o economista da Link Investimentos, Thiago Carlos, a queda dos preços das commodities também reforça o movimento de queda do dólar frente a moeda brasileira. O índice de commodities CRB caía 1,15% no final desta tarde.
"É normal que nos mercados emergentes ocorra esse movimento mais forte de alta do dólar, reforçado pela queda de preços de commodities", disse o economista, acrescentando que existe a possibilidade de o BC voltar a atuar no mercado.