os conflitos políticos no mundo árabe, que já atingiram Tunísia e Egito, se intensifiquem ou se alastrem, as consequências podem chegar à economia brasileira. O risco não está no Egito em si, mas na possibilidade de países produtores de petróleo do Oriente Médio também se tornarem alvo de agitação política. Essa, por sinal, é uma das razões da alta dos últimos dias no preço do óleo ? ontem, pela primeira vez desde 2008, o barril do óleo cru ultrapassou os US$ 100 na bolsa de Londres. A preocupação internacional vem do fato de que se trata de países relativamente próximos, e unidos por afinidades culturais. Além disso, a maioria é pouco afeita à democracia à moda ocidental: das dez nações da África e do Oriente Médio que fazem parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), quatro são monarquias, três são ditaduras e uma (o Irã) é uma teocracia. Apenas a Nigéria e o Iraque têm governos eleitos por regras familiares ao Ocidente, sendo que, no caso do Iraque, as eleições foram realizadas sob tutela dos Estados Unidos. Como o objetivo das manifestações é a democratização, esses países são alvos em potencial. ?Esses regimes são estáveis, o que agrada aos interesses da indústria do petróleo e dos países consumidores?, diz o economista Breno Lemos, conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-PR). Estáveis mesmo: o grupo inclui um chefe de governo no cargo desde 1969 (Muamar Kadafi, da Líbia) e outro no poder desde 1979 (José Eduardo dos Santos, de Angola). De acordo com Lemos, o mercado já inclui nos preços vigentes a eventualidade de os choques causarem redução na oferta de petróleo. Mas esse não seria, de acordo com ele, a única causa da alta recente do petróleo. A tendência de recuperação na economia europeia também influenciou nos preços. Se a tensão ficar limitada ao Egito, não deve haver maiores problemas para a economia global. Mas se ela se prolongar ou contagiar outras nações, o risco surge. ?O preço do petróleo mexe com custos importantes em todo o mundo?, observa José Guilherme Vieira, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Não só com o combustível nas bombas, mas principalmente com matérias-primas derivadas da indústria petroquímica, como o polipropileno e as naftas. Aí surge o problema para o Brasil. ?Sem crise, a inflação já era preocupante. Agora temos mais um ponto para nos deixar em alerta?, diz Vieira. Para ele, se os preços do petróleo continuarem a subir, forma-se um cenário em que o Banco Central deve se ver forçado a elevar mais ainda os juros para manter a inflação dentro da meta. Há, entretanto, uma atenuante. No Brasil, os preços ao consumidor são regulados pela Petrobras, que tende a mantê-los estáveis. ?No período 2008/2009, o petróleo caiu muito no mercado internacional?, lembra o economista Carlos Magno Bittencourt, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). ?Aqui, a Petrobras manteve tudo inalterado. Agora deve agir da mesma forma.? O governo também tem condições de contribuir para isso, alterando a Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide), um tributo federal.
Análise