A Companhia Siderúrgica Nacional decidiu abrir mão de ter o controle da cimenteira portuguesa Cimpor, optando por condicionar sua oferta à obtenção de um terço das ações da empresa. A CSN ainda elevou em 7,5 por cento o preço da proposta, para 6,18 euros por ação em dinheiro.
A decisão acontece depois que Votorantim e Camargo Corrêa acertaram acordos com acionistas da Cimpor em que obtiveram parcelas significativas da empresa, criando barreiras para à entrada da CSN.O grupo brasileiro mais conhecido por suas operações de produção de aço condicionava seus termos anteriormente à obtenção de 50 por cento mais uma ação ao preço de 5,75 euros por papel.
Com os novos termos, o valor da operação agora proposta pela CSN pode chegar a 1,39 bilhão de euros (1,9 bilhão de dólares), segundo cálculos da Thomson Reuters baseados nos dados das ações em circulação da Cimpor.
Quando a CSN buscava o controle da cimenteira portuguesa, o negócio girava em torno de 3,86 bilhões de euros. A CSN anunciou a oferta pela Cimpor em dezembro em um esforço para fazer deslanchar processo de internacionalização do grupo.
As ações da cimenteira portuguesa, uma das 10 maiores do mundo e terceira maior produtora de cimento do Brasil, disparavam sete por cento após o anúncio da CSN, para 5,88 euros por ação.
Já os papéis da CSN recuavam 2,84 por cento, enquanto o Ibovespa mostrava perda de 1,02 por cento. Na véspera, analistas previram que o papel da empresa poderia sofrer caso a companhia elevasse o preço diante de uma eventual pressão maior sobre suas finanças.
"Com esse preço, a missão é quase impossível. Será difícil convencer os acionistas da Cimpor", disse o analista Gilberto Cardoso, do Banif Investment. Segundo ele, numa primeira avaliação "o impacto para as ações da CSN é neutro porque eles elevaram o preço, mas vão comprar menos ações".
GUERRA
A Camargo Corrêa, quarta maior produtora de cimento do Brasil, anunciou no final da quinta-feira a compra de mais 6,5 por cento da Cimpor oferecendo 6,50 euros por ação, elevando sua participação total na companhia para 28,7 por cento.
Antes disso, a Votorantim, maior produtora brasileira de cimento com 40 por cento de participação de mercado, havia acertado a compra de 17,3 por cento da Cimpor que estavam em poder da francesa Lafarge, em uma operação de troca de ativos.
Além disso, a Votorantim também fechou acordo de acionistas com a estatal Caixa Geral de Depósitos (CGD), dona de outros 9,6 por cento da cimenteira portuguesa.
"Há agora uma guerra que a gente não consegue enxergar no que vai dar. Talvez com essa oferta menor que a da Camargo, ele (Steinbruch) poderá conseguir uma posição no conselho da Cimpor", afirmou o analista Pedro Galdi, da corretora SLW.
As duas rivais da CSN e a CGD, passaram a controlar juntas 55,5 por cento da Cimpor, o que, segundo analistas, inviabilizou o sucesso da oferta anterior da companhia comandada por Benjamin Steinbruch.
Diante disso, a CSN, uma estreante no mercado de cimentos, recorreu ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) esta semana, acusando Votorantim e Camargo Corrêa de atentarem contra a concorrência no mercado de cimentos.
Uma decisão do Cade que pode congelar os efeitos dos acordos das duas nas operações da Cimpor no Brasil pode ser divulgada antes da expiração da oferta da CSN, afirmou na quinta-feira o advogado Juliano Maranhão, do escritório Sampaio Ferraz, que representa a CSN. O vencimento da oferta foi definido para a próxima quarta-feira (17).