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CVM: investidor brasileiro lucrou quase R$ 1 milhão com negociação ilegal de ações

Um investidor é suspeito de ter lucrado, de modo ilegal, quase R$ 1 milhão com ações da Ipiranga, antes do anúncio formal da venda da empresa na segunda-feira (19).

A venda da Ipiranga para um grupo de empresas formado pela Petrobras, Braskem e Ultra, foi o maior negócio fechado no Brasil este ano.

De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do Ministério Público Federal (MP), o investidor, que é brasileiro, um fundo de investimento com base em Delaware, nos Estados Unidos, além de outros investidores, sabiam que a Ipiranga seria vendida e negociaram ações da Bolsa de Valores de São Paulo antes e no dia do anúncio da venda. O investidor lucrou R$ 937 mil, diz a CVM. O fundo de investimento, R$ 3,3 milhões.

Os nomes dos dois investigados estão protegidos por segredo de Justiça. A CVM ainda não conseguiu comprovar a ligação entre eles e as empresas envolvidas na compra da Ipiranga.

O anúncio da compra da Ipiranga foi feito na segunda-feira, mas a CVM – autarquia que fiscaliza o mercado de ações - detectou um movimento diferente nas negociações dos papéis da Ipiranga na sexta-feira (16). Segundo Marcelo Trindade, presidente da CVM, o volume das operações das ações foi dez vezes maior que a média.

Para a CVM, esse é um forte indício de que pessoas que sabiam que as ações da Ipiranga iriam subir na segunda-feira (devido ao anúncio da venda da empresa) compraram papéis na sexta-feira por um preço menor e os venderam depois do anúncio por um valor maior. O lucro do investidor brasileiro foi de 69%. Já o fundo lucrou 40% com a venda dos papéis.

Logo após o anúncio da compra da Ipiranga, a CVM comunicou que suspeitava do uso de informação privilegiada. Na quarta-feira (21), a autarquia e o MPF conseguiram uma liminar na Justiça Federal que bloqueou as contas dos dois investidores já identificados, que não receberam o dinheiro. A decisão da Justiça é inédita no Brasil. "Quem teve a informação privilegiada tinha certeza do que ia acontecer com as ações da Ipiranga", diz Trindade.

Procurados nesta quinta-feira (22) pelo G1, Ipiranga, Braskem, Petrobras e Grupo Ultra não se pronunciaram sobre o assunto.

Além do fundo e da pessoa física brasileira, outros 24 investidores estão sendo investigados. Segundo Trindade, serão checadas todas as pessoas que sabiam da operação com antecedência. No dia 19, quando a venda da Ipiranga foi anunciada, a CVM pediu às empresas envolvidas a lista das pessoas que tinham conhecimento prévio da operação e desde quando. A expectativa é que a primeira parte das investigações sejam concluídas em até 90 dias. A liminar, porém, só vale por 30 dias.

A pena para este tipo de crime varia entre 3 e 5 anos de prisão, segundo o MP.

O MP pretende preparar uma ação civil pública indenizatória. Assim, cada investidor que se sentiu lesado por ter vendido suas ações na mesma data, poderá se manifestar, conforme explicou o procurador Sady D`Assumpção. Segundo ele, numa provável condenação, o dinheiro bloqueado servirá para atender a essas demandas.

Segundo Trindade, o vazamento de informações tem sido recorrente no mercado brasileiro. "Ao investidor que age certo, a nossa mensagem é de que podem ficar tranqüilos, porque a CVM está agindo com rapidez. Aos que agem errado, queremos dizer que não vamos tolerar a prática de operações deste tipo", disse ele, ressaltando que a venda da Ipiranga não será afetada pela operação.

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