O esforço diplomático do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em abrir embaixadas para promover vendas ao continente africano não evitou uma queda nas exportações de produtos manufaturados nos últimos anos. Desde 2010, o déficit comercial com a África triplicou e chegou a US$ 6 bilhões, com chineses, indianos e europeus ocupando espaço maior nas compras africanas.
Dados compilados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que promove segunda-feira (25) um seminário sobre as oportunidades nos 54 países do continente africano, mostram um tombo de 30% nas exportações de bens industrializados para os mercados da África. Além disso, o ritmo de aumento das vendas da China (13,4%), Índia (22,8%), México (11,9%) e União Europeia (9 2%) supera a taxa de 6% do Brasil neste período. Ou seja, o País perde competitividade e negócios para competidores emergentes e desenvolvidos. Na média mundial, as exportações para o continente cresceram 7,5%.
"Foi muito útil o que Lula fez", avalia Melissa Cook, diretora-gerente da African Sunset Partners, uma consultoria de negócios. "Mas as empresas precisam aparecer, mostrar seus produtos e serviços. É preciso muito trabalho de campo para conhecer o mercado africano. Não se consegue isso a 6.5 mil quilômetros de distância", disse a executiva.
Bem-visto
Entre 2003 e 2010, o governo brasileiro abriu 18 novas embaixadas e dois postos consulares no continente. Todas elas têm pelo menos um funcionário dedicado à promoção comercial.
Em sua palestra no seminário organizado pela CNI ,Cook ressaltará muitos dos potenciais que as empresas brasileiras poderiam usar mais. O País é bem-visto no continente não apenas pelo maior número de embaixadas, mas também porque as companhias nacionais que já atuam lá costumam contratar e treinar trabalhadores locais, diferentemente de chineses e indianos, por exemplo. Subsecretário do Itamaraty para África e Oriente Médio, o embaixador Paulo Cordeiro reconhece que o Brasil ainda é muito "voltado para o próprio umbigo" e lembra haver uma enorme demanda africana por bens e serviços brasileiros.
Com uma média de crescimento acima da mundial, os países africanos têm procurado o Brasil por interesse no modelo de negócios proposto pelo País. Mas sem obter respostas às demandas. "O que não temos é capacidade de alavancagem de crédito para bens e serviços. Somos convidados, mas sem capacidade para operar dentro da demanda deles", disse Cordeiro ao Estado.
Nos últimos anos, depois da criação de um grupo de trabalho sobre a África, o crédito aumentou. Desde 2007, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ofereceu US$ 3,2 bilhões em crédito. Mas, explica Cordeiro, a maior parte dos países da região tem dificuldade em oferecer garantias de pagamento. "A maior parte das nossas exportações é para Angola, porque eles têm uma conta petróleo. Essa é uma questão que precisamos ser criativos para resolver", afirma.
Setores
O Brasil domina algumas áreas que os africanos tentam desenvolver por conta própria: agroindústria (em especial o setor sucroalcooleiro e frango), cimento, construção civil, máquinas e equipamentos, medicina. Muitos países vêm criando políticas específicas para o crescimento de indústrias domésticas, o que permitiria a empresas brasileiras se apresentarem como sócias, diz Cook.
Sob reserva, um diplomata africano queixa-se do que vê como falta de interesse das companhias brasileiras no mercado africano. "Enquanto isso, chineses e indianos esfregam a mão de contentamento", afirma. No Itamaraty, não são poucas as queixas de que os brasileiros são "tímidos".
No entanto, Carlos Abijaodi, diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, tem um ponto de vista diferente. Diante da falta de competitividade da indústria nacional e da oferta de mercado local, com o consumo doméstico sendo estimulado pelo governo brasileiro nos últimos anos, faltou envergadura para disputar contratos do outro lado do Atlântico Sul. Mas o interesse existe, ressaltou ele: as empreiteiras brasileiras constroem por lá há décadas. "A África não é um mercado fácil, muitos países não têm estrutura financeira perfeita, exigem cash (dinheiro vivo) para manufaturados", relatou.
"Existe um potencial muito grande, que não pode perder, não é fácil: é uma coisa de longo prazo, tem de estabelecer o que vai fazer, os investimentos têm de ser cuidadosos. Não temos nada que dê cobertura contra risco político", disse Abijaodi. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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