Mais de 12 milhões de brasileiros viraram o ano na fila do desemprego e outros tantos ainda devem engrossar as estatísticas dos sem-trabalho em 2017. Mas já é possível enxergar uma luz no fim do túnel. Após dois anos de intensa deterioração do emprego no país, o ritmo de fechamento de postos formais vem, finalmente, desacelerando nos últimos meses. O saldo de vagas ainda está no vermelho, mas alguns setores já começam a contratar novamente.
Quem está buscando uma colocação não vai encontrar moleza. A tendência é a de que 2017 ainda seja um ano de ajustes no mercado de trabalho, porém, menos intenso do que o registrado nos dois últimos anos, quando quase três milhões de brasileiros perderam o emprego no país. Mesmo com o fechamento de 40 mil empregos com carteira assinada no país, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o resultado de janeiro representa uma ligeira melhora em relação ao desempenho do último trimestre de 2016.
Apesar do cenário mais positivo, com a queda no ritmo das demissões, o mercado não deve conseguir repor nem mesmo as vagas extintas em 2016 (1,3 milhão de postos), avalia Thiago Xavier, economista da consultoria Tendências. Livre da influência de fatores pontuais, como as contratações temporárias, “os números de janeiro com ajuste sazonal ainda são consistentes com um aumento da taxa de desemprego”, destaca relatório da equipe econômica do Itaú sobre o desemprego no país.
A criação de vagas só deve voltar a ficar positiva no segundo semestre. Até lá, os novos postos devem se concentrar principalmente em alguns setores da indústria que já ensaiam uma retomada de olho nos indicadores econômicos mais positivos, e no agronegócio, que vive a expectativa de uma safra agrícola recorde neste ano.
Campeã absoluta de dispensas, a indústria tem apresentado cortes menos intensos desde o segundo trimestre de 2016, e é a grande responsável pela desaceleração do saldo nacional negativo. O setor foi o que mais abriu novos postos de trabalho em janeiro (17,5 mil) seguido pelo Agropecuário (10,6 mil).
Embora a capacidade de geração de emprego da indústria seja limitada – quase dois terços dos empregos no país estão no setor de serviços – a atividade industrial deve estimular um efeito em cadeia. “A indústria é o start para virar a curva do desemprego e deve puxar a criação de vagas em outros setores”, afirma Thiago Gaudencio, gerente do escritório de Curitiba da Michael Page. Segundo ele, as empresas estão otimistas e já começam a se movimentar de olho em um retomada da economia.
Sete das 10 maiores cidades do Paraná registraram geração de vagas
Nove estados terminaram janeiro com saldo positivo na geração de vagas, entre eles, o Paraná, com quase cinco mil novos postos de trabalho. A situação está longe de ser boa – nos últimos dois anos o estado fechou 140 mil vagas formais – mas pelo menos as demissões encolheram 30,4% nos últimos 12 meses até janeiro, de 82,5 mil para 57,4 mil. Sete das 10 maiores cidades do estado registraram geração de vagas positiva no primeiro mês do ano (Curitiba, Maringá, Cascavel, São José dos Pinhais, Colombo, Guarapuava e Paranaguá).
Indústria, Serviços, Construção Civil e Agropecuária abriram postos de trabalho em janeiro no Paraná. Aos poucos, as oportunidades começam a surgir, mesmo em setores muito castigados pela crise, como o automotivo. Na Grande Curitiba, a Renault reabriu o terceiro turno da fábrica e contratou 700 funcionários para atender ao aumento das exportações do recém-lançado SUV Captur. A indústria têxtil abriu 1.067 vagas em janeiro, segundo melhor desempenho atrás da construção civil, com 1.568 novos postos de trabalho.
Também há boas notícias vindas da agroindústria paranaense. Na região Oeste do estado, em Palotina, a cooperativa C.Vale está contratando 1,1 mil trabalhadores para ampliar a produção de frangos e atender a demanda de um frigorífico para peixes que deve ficar pronto até o final deste ano. Em um cenário de escassez de vagas, a oportunidade tem atraído pessoas de outros estados em busca de um emprego com carteira assinada.
Em todo o país, a previsão de uma safra agrícola recorde também aumenta expectativa de geração de empregos, seja no campo ou na indústria. Uma safra boa pode impulsionar, por exemplo, a venda de máquinas agrícolas – só em janeiro houve um crescimento de 74,9% no mercado interno e 42% nas exportações desses equipamentos.
Último a sentir o impacto da crise, o setor de serviços deve demorar um pouco mais para retomar as contratações, embora alguns segmentos já apresentem bom desempenho, como é o caso de TI. Ele chegou a desacelerar durante a crise, mas já voltou a contratar é uma das áreas mais promissoras para este ano em todo o país.
No Paraná, Curitiba e Maringá, reconhecidas como polos de TI, tendem a centralizar a criação de vagas para profissionais dessa área, mas eles serão demandados em todas as regiões, afirma Gaudêncio, da MP.
Quadro vai piorar antes de melhorar
A avaliação de quem acompanha o mercado de trabalho de perto é a de que o desemprego ainda vai aumentar neste ano antes de começar a cair de forma mais consistente, o que deve ocorrer apenas no segundo semestre do ano, quando a geração de vagas voltar a ficar positiva.
Com a crise, milhares de pessoas que buscavam uma colocação no mercado de trabalho deixaram de procurar emprego e saíram das estatísticas. Neste ano, diante da perspectiva de retomada da economia, boa parte desse contingente voltará a procurar trabalho, engrossando a taxa de desemprego, que chegou a 12,6% no último trimestre encerrado em janeiro, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD/Contínua). Com o ajuste sazonal, contudo, a taxa de desemprego já seria de 13% em janeiro, resultado puxado por uma maior procura por trabalho, segundo Relatório do Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco . A projeção do relatório é de que a taxa de desemprego vai continuar alta neste ano, “uma vez que a contração da atividade econômica ainda não teve seu impacto completo no mercado de trabalho”.