No trimestre até julho deste ano, o País tinha 35,739 milhões de trabalhadores com carteira assinada, menor número desde o trimestre até setembro de 2013| Foto: Marcos Santos/ USP Imagens/Fotos Públicas

No setor da construção havia sete anos, Claudia Alves, de 43 anos, era carpinteira e trabalhava com carteira assinada. Há dois meses, porém, ela foi demitida de uma obra na Barra da Tijuca, no Rio - a justificativa dos chefes foi a crise do setor. Agora, vende batatas fritas à noite no bairro do Cordovil, onde mora com o marido, a filha e o neto, na zona norte da cidade.

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“Tive de cortar o gasto no supermercado. Antes, comprava sorvete, outros supérfluos. A vida estava mais folgada, mas agora... Não estamos passando fome, mas diminuiu o poder de compra”, conta ela, para quem a insegurança da informalidade é a maior perda. “Quando tem o emprego fixo, com carteira, é tudo certinho, tem hora extra. Além disso, ganha mais.”

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A situação de Claudia é um exemplo do prejuízo arcado por quase 1 milhão de brasileiros que foram demitidos do emprego formal nos últimos 12 meses. Muitos vêm recorrendo a bicos para pagar as contas. Sem a recuperação da economia, o Brasil fica cada vez mais longe de estancar a perda na qualidade do mercado de trabalho conquistada na última década.

No trimestre até julho deste ano, o País tinha 35,739 milhões de trabalhadores com carteira assinada, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. É o menor número desde o trimestre até setembro de 2013, quando 35,636 milhões ocupavam vagas formais.

A cada ano sem crescer, o Brasil retroage dois anos em termos de postos formais, estima o economista Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “O emprego formal começou a cair em julho de 2014. Em um ano, regredimos dois anos, e a tendência é que continue desacelerando. No fim de 2016, não descarto a possibilidade de estarmos no pior nível da Pnad Contínua (iniciada em 2012).”

Para o trabalhador, o prejuízo chega em forma de precarização, já que muitos dispensados acabam fazendo bicos. Hoje, o Brasil tem 22,111 milhões de trabalhadores por conta própria, o maior número da pesquisa do IBGE. Essa forma de inserção é marcada, na maioria das vezes, pela informalidade.

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Para o governo, o problema é a redução na arrecadação previdenciária em tempos de déficit crescente na área, além da alta demanda por assistência, como seguro-desemprego. “Isso eleva o déficit fiscal”, diz Moura.

Processo

O principal risco é o círculo vicioso gerado pela dispensa dos trabalhadores registrados. Se menos gente tem remuneração fixa, o consumo cai ainda mais, incentivando novas demissões e realimentando o processo. Outro passo atrás é dado quando a rede de proteção, que inclui o seguro-desemprego, acaba sem que o trabalhador consiga nova colocação.

Wellinton Batista, de 29 anos, atuava havia dois anos como contínuo em um consórcio que presta serviços à Petrobrás. Com a crise na estatal, foi demitido em março, e o seguro-desemprego acabou em agosto. “Agora está complicado. Faço bico como ajudante de obra de vez em quando, mas é pouco serviço”, conta ele, que recebe ajuda da família para seguir a vida com a mulher e os dois filhos.

Morador de Bangu, na zona oeste do Rio, Batista já fez mais de dez entrevistas de emprego. Em algumas situações, disputou com outros 20 candidatos. “Não fui chamado para nada, estou só esperando”, diz. A mulher tampouco teve sucesso em suas tentativas de encontrar emprego como recepcionista.

“A redução do trabalho formal não vai se reverter facilmente no limite do uso da seguridade social (quando o benefício acaba). Com isso, as pessoas tentam se aventurar no mundo informal, que acolhe muito rápido e expulsa mais rápido ainda”, analisa Lúcia Garcia, coordenadora do Sistema de Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese.

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Um problema maior seria atingir o “desemprego absoluto”, quando as pessoas nem sequer encontram bicos. “Sem emprego formal, sem seguridade e sem renda do emprego informal é ladeira abaixo”, diz Lúcia, que não aposta nesse futuro. “Mas não chegar a esse ponto depende de política econômica.”

Dada a expectativa de retração na economia em 2016, Moura, da FGV, espera corte de 1,5 milhão de postos formais neste ano e a mesma quantidade no ano que vem. “Em 2017, é provável que não haja recuperação muito robusta da economia. Então, o mercado de trabalho deve continuar se deteriorando”, afirma. “Com certeza vamos regredir muito em termos de formalização.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.