As dificuldades enfrentadas pelo setor exportador dominaram a pauta da reunião do Grupo de Acompanhamento da Crise (GAC), realizada nesta quarta-feira (12) no Ministério da Fazenda. Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Armando Monteiro Neto, apresentou reclamações pontuais em relação ao mercado externo e foi seguido por outros empresários.
Barral contou, no entanto, que a maioria das manifestações foi positiva, mostrando que vários setores já retomaram o crescimento e que estão otimistas em relação ao segundo semestre. Monteiro Neto disse que há uma preocupação forte, principalmente, em relação às exportações de manufaturados que tiveram uma queda muito forte. Segundo ele, isso pode comprometer a recuperação mais acentuada da atividade econômica. Não só pelo cenário externo, onde há uma retração da demanda, mas também pelo acirramento da concorrência em todos os mercados e o aumento das importações em alguns setores.
Monteiro Neto disse que tudo isso, agravado pela apreciação de 20%, este ano, do real, tira do Brasil a capacidade de competição. O presidente da CNI disse que o Brasil pode perder mercado e se tornar uma economia "commoditizada" com a perda de importância do setor industrial.
Ele disse que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu a conjuntura adversa para o setor, mas não sinalizou com qualquer mudança na política cambial. Na sugestão da CNI, o governo poderia acelerar as compensações de crédito do setor exportador e desonerar a folha de pagamentos das empresas, o que também traria alívio aos exportadores. "A crise nos devolve uma agenda que o Brasil abandonou. Precisamos atacar os custos elevados, ganhar mais eficiência e resolver problemas do ponto de vista logístico", disse.
Monteiro Neto defendeu que o grupo deixe de ser de acompanhamento da crise e passe a se debruçar numa agenda da competitividade. Ele contou ainda que o ministro Mantega informou, durante a reunião, que o governo finalizou hoje a integralização dos dois fundos garantidores de crédito (do BNDES e do Banco do Brasil), o que significa que eles estão operacionais a partir de hoje.
Anfavea
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, afirmou que embora a taxa de câmbio seja uma preocupação para os exportadores, cada vez mais é preciso se discutir as questões estruturais de competitividade das empresas brasileiras. "Existem outras questões como a tributação, já que o Brasil exporta impostos, o custo logístico e o crédito caro. A visão tem de ser mais ampla" disse ele, destacando que o real valorizado reforça os problemas de competitividade existentes no País. "Se quisermos um Brasil exportador, com influência no mercado externo, esses gargalos terão que ser superados", acrescentou. Schneider participou da reunião do GAC, no Ministério da Fazenda, em Brasília.
Schneider afirmou que, do ponto de vista do mercado interno, as medidas adotadas pelo governo ao longo da crise conseguiram consolidar uma recuperação no setor automotivo. Por outro lado, houve uma queda significativa das exportações. Segundo ele, as vendas no mercado interno cresceram 3% de janeiro a julho ante igual período do ano passado, enquanto o setor comercializou 200 mil veículos a menos no período no exterior, uma queda superior a 40%. Schneider previu que as vendas no mercado interno crescerão 6% este ano, mas a produção de veículos vai cair 5% por conta da queda nas exportações.