A mudança na cúpula do Ministério da Fazenda não significará alterações na política econômica em caso de reeleição da presidente Dilma Rousseff. A afirmação é do ministro Guido Mantega, no comando da pasta há oito anos e meio. Em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, a primeira desde que a presidente Dilma confirmou sua saída do governo, Mantega defendeu a atual política econômica: "as diretrizes serão mantidas em 2015".
Pela primeira vez, o ministro disse que as medidas anticíclicas, iniciadas em 2008 como resposta à crise financeira internacional "estão terminando". Principal marca de sua gestão, o fim do conjunto de medidas fiscais, monetárias e de crédito deve, segundo ele, pavimentar o caminho para a redução da taxa de juros.
"É claro que temos de fazer ajustes, porque a política anticíclica está terminando. Então, é preciso recuperar a arrecadação para aumentar o esforço fiscal e, assim, abrir espaço para a flexibilização da política monetária, que está muito, muito apertada", disse. A seguir, trechos da entrevista:
Depois de oito anos, o sr. acredita que um novo ministro da Fazenda, em caso de vitória de Dilma Rousseff, mudará a política econômica?
A mudança de ministro não significa mudança de política econômica. As diretrizes serão mantidas em 2015. Mas não devemos colocar a carroça na frente dos bois. Ninguém está pensando em transição ainda. Primeiro tem de ganhar a eleição e depois fazer a equipe. Até o final do ano estou aqui exercendo meu cargo plenamente. Mudança de ministro não quer dizer mudança de política porque é uma política de governo.
A meta fiscal dificilmente será cumprida em 2014. O sr. ainda avalia que o superávit primário será atingido neste ano?
Nós estamos em um ano mais difícil do ponto de vista fiscal, com um crescimento econômico menor do que em 2013, e isso se reflete na arrecadação. No segundo semestre, o quadro já está melhorando porque a economia está indo melhor. De fato, a arrecadação até agora está menor do que foi projetado, mas estamos fazendo todo o esforço para fazer o melhor primário possível. Temos ainda uma série de receitas que estão por vir. São dois Refis (programas de renegociação tributária) neste ano, e temos também a parte da Petrobrás pelos campos cedidos e o leilão do 4G, que vai acontecer. Somente em novembro saberemos com segurança.
O governo interveio muito no mercado de câmbio. Desde o fim do ano passado, o Banco Central conduz o programa de swaps, para estabilizar a cotação do dólar. Até onde isso vai?
Nossa opção sempre foi a de deixar o câmbio flutuante, mas em alguns momentos somos obrigados a moderar o apetite do mercado. O câmbio mais desvalorizado é bom para a indústria e para os exportadores, mas uma taxa muito volátil é ruim para todo mundo. O BC agiu corretamente em meio à maior volatilidade mundial criada pelo Fed no ano passado. O dólar chegou a R$ 2,45 em janeiro. O BC fez intervenção moderada, porque se não controlar, isso ganha impulso. O programa de swaps vale até o fim do ano e não está previsto renovar. A decisão é do BC, afinal ele tem autonomia, mas a previsão é que não se renove.
O senhor falou nesta semana em ajustes necessários para 2015. Que ajustes são esses?
Os ciclos na economia mundial exigem ajustes no câmbio, no fluxo de capitais etc. Como estamos nos aproximando do fim deste ciclo de crise mundial, iniciado em 2008 e agravado no fim de 2011, claro que temos de fazer ajustes. A política anticíclica está terminando. Então, é preciso recuperar a arrecadação para aumentar o esforço fiscal e assim abrir espaço para a flexibilização da política monetária, que está muito, muito apertada. (Colaboraram Renata Veríssimo e Bianca Ribeiro).
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