| Foto: ANTHONY WALLACE/AFP

O nível recorde alcançado pela dívida chinesa no primeiro trimestre do ano é alarmante e pode desencadear no médio prazo uma crise bancária no gigante asiático, advertiu o Banco de Pagamentos Internacionais (BIS).

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A brecha entre o nível de crédito e o Produto Interno Bruto (PIB), um indicador chave da dívida, alcançou 30,1% no primeiro trimestre do ano, um nível recorde, muito superior aos 10% a partir dos quais se considera que o sistema bancário está em perigo, indicou a instituição em um relatório publicado no domingo.

Este indicador mede a tendência de longo prazo da relação entre o PIB e a dívida de um determinado país.

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O estudo do BIS, instituição apelidada de “banco central dos bancos centrais”, analisa a dívida em 31 países, entre eles Estados Unidos, Grécia e Reino Unido. A China é o país com a dívida mais importante.

A instituição, com sede na Suíça, concede à China um sinal vermelho, que indica a possibilidade de uma crise nos próximos três anos, e adverte que o rápido aumento do crédito pode semear futuras crises.

Transição

As autoridades de Pequim estão tentando estimular o frágil crescimento da economia chinesa, a segunda do mundo, fomentando o crédito barato a taxas baixas. A China está em plena transição entre um modelo econômico baseado em investimentos públicos e exportações e outro que conta com o consumo como motor de crescimento.

Mas os analistas acreditam que esta estratégia aumenta o risco de créditos insolventes e pode desencadear uma crise financeira.

No ano passado a dívida chinesa foi de 168,48 trilhões de iuanes, o equivalente a 249% do PIB do país, segundo uma estimativa da Academia Chinesa de Ciências Sociais, ligada ao governo.

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Em agosto os quatro principais bancos do país anunciaram um importante aumento dos créditos com risco de insolvência na primeira metade do ano.

Pouco antes, o órgão regulador dos bancos chineses já havia advertido que nos últimos três anos os bancos cancelaram 300 bilhões em créditos tóxicos por considerá-los incobráveis.

Um problema global

A China é determinante na economia mundial, motivo pelo qual uma crise de seu setor bancário poderá ter graves consequências em todo o mundo, que ainda se recupera da crise financeira de 2008.

Entretanto, Pequim implementa várias medidas para enfrentar o problema (como o intercâmbio da dívida por ações) e os analistas acreditam que suas enormes reservas de divisas, assim como o controle que as autoridades exercem sobre os bancos, poderiam evitar o pior.

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“Resolver o problema da dívida será caro, mas o processo (...) não provocará um pouso forçado [da economia] ou em uma crise bancária como a que muitos temem”, garante em nota Andy Rothman, da Matthews Asia.

O analista lembra que a maioria dos créditos duvidosos estão nas mãos de companhias e bancos estatais e que o governo pode controlar como e quando reconhecê-los como tóxicos.

Outros observadores são menos otimistas e o número dois do Fundo Monetário Internacional (FMI), David Lipton, disse há alguns meses que é “crucial” para o mundo que a China resolva esse problema. “Nos últimos 20 anos aprendemos algumas vezes como as alterações na economia e os mercados de um país podem ressoar no mundo todo”, afirmou.

No mesmo sentido, Qiang Liao, diretor da S&P Global Ratings, disse à AFP que o risco da dívida chinesa “sem dúvida está crescendo” e garantiu que seu impacto global “poderia ser “enorme tendo em conta o tamanho da economia chinesa”.