A alta do dólar para um patamar acima de R$ 4,00 “acendeu o sinal vermelho” para o setor de sementes, disse o presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), Narciso Barison Neto. Fabricantes nacionais e grandes multinacionais do setor já vinham lidando com uma alta nos custos de até 10% e queda nas vendas em torno de 10% no ano. “Estamos cortando na carne há bastante tempo. Nós esperávamos o dólar a R$ 4 para janeiro do ano que vem, mas agora acendeu o sinal vermelho de quase inviabilizar o negócio, especialmente das empresas brasileiras que já vinham operando no vermelho”, afirmou.
Mais da metade do setor de sementes, segundo Barison, é formado por fabricantes nacionais de sementes que ao longo do ano reduziram suas margens ou mesmo abdicaram do lucro para manter o negócio. O setor não tem repassado as altas de custos aos clientes, por conta da menor demanda em 2015. A alta do dólar afeta diretamente o custo de produção das sementes de soja, responsáveis por 37% do faturamento de setor, porque para beneficiar e produzir sementes as sementeiras compram soja bruta (antes da secagem e limpeza) com base na cotação da Bolsa de Chicago, em dólar. O setor também tem se visto obrigado a absorver aumentos dos preços da energia elétrica e de mão-de-obra.
Barison chamou a atenção para o fato de as sementeiras brasileiras contarem com menos alternativas que as multinacionais do setor para passar pela crise econômica. “Uma multinacional tem como contrabalançar e absorver possíveis prejuízos. A empresa brasileira não tem como buscar recursos em outros países”, afirmou.
A melhor remuneração em real para os produtores também não atenua a situação, na avaliação do presidente da Abrasem. Para ele, o aumento dos ganhos em real com as commodities agrícolas “é uma ilusão”. Ele diz que, se por um lado alguns produtores venderam a soja a cerca de R$ 80 a saca, o poder aquisitivo caiu pela metade. “Os custos aumentaram muito mais, em todos os segmentos, e o acesso ao crédito diminuiu”, falou.
Apesar do difícil momento vivido pelo setor, ele não observou, até agora, empresas em situação de falência ou colocando suas operações à venda. “O empresário está no meio do processo, da safra, e ainda tem esperança de que ao final da comercialização terá algum resultado (positivo)”, disse. Ele lembrou, ainda, que a Abrasem tem feito uma campanha junto aos produtores para alertar sobre os riscos de abrir mão de sementes de qualidade e certificadas. “Se meu cliente tem saúde, eu também tenho. E só há duas maneiras de superar esta crise: com produtividade e redução de custos, não de qualidade. Para ter produtividade, ele precisa usar sementes com tecnologia.”
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