O dólar subiu mais de 2% ante o real nesta quarta-feira (25), com investidores aproveitando para comprar divisas após três dias de queda, depois de o Banco Central anunciar que não renovará o programa de intervenções diárias no câmbio e diante da alta dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Operadores ressaltaram, contudo, que a decisão do BC não deve gerar mais grandes impactos sobre o dólar no curto prazo, uma vez que o mercado já havia se antecipado, em grande parte, ao fim do programa de swaps.
Investidores aguardam anúncio sobre alta dos juros nos EUA
Nos mercados internacionais, o dólar chegou a mostrar queda firme contra outras moedas importantes, após as encomendas de bens duráveis nos EUA inesperadamente recuarem em fevereiro. Investidores vêm monitorando de perto indicadores econômicos da maior economia do mundo para avaliar se o Federal Reserve terá margem para elevar os juros em junho ou se deixará o início do aperto monetário para o segundo semestre.
“Estamos vendo por aqui principalmente vendas (de dólares) por estrangeiros, na esteira desse número. O investidor local segue cauteloso”, afirmou o especialista em câmbio da corretora Icap, Italo Abucater, mais cedo.
Mas os rendimentos dos Treasuries devolveram a queda vista após a divulgação do dado econômico, tirando fôlego da entrada de dólares no Brasil e novamente elevando as cotações da divisa norte-americana.
A alta dos juros norte-americanos acelerou durante a tarde, após um leilão de notas de cinco anos nos EUA mostrar resultado fraco. O aumento das taxas nos EUA tende a atrair para lá recursos atualmente aplicados aqui, e investidores aproveitaram essa oportunidade para voltar a comprar dólares após três dias de queda aqui.
“A percepção vívida no mercado é que a queda do dólar não ia durar muito. Não tem fundamento para isso”, disse o superintendente de câmbio de uma gestora de recursos nacional. “Quando surgiu a oportunidade, o investidor correu para comprar (dólares)”.
O dólar avançou 2,43%, a R$ 3,2034 na venda, após chegar a cair 0,36% pela manhã. Nas últimas três sessões, a divisa tinha acumulado queda de 5,13%.
Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de US$ 1,4 bilhão.
Swaps
O BC anunciou na noite de terça-feira (24) que deixará de ofertar diariamente swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares, a partir de abril. Mas assegurou que vai rolar integralmente os contratos que vencem a partir de 1º de maio, “levando em consideração a demanda pelo instrumento e as condições de mercado”.
“São 2 bilhões de dólares que o BC deixa de injetar no mercado por mês, então nós vamos ter de contar com fluxo positivo para ver um alívio no câmbio”, disse o especialista em câmbio da corretora Icap, Italo Abucater. “Isso vai ser sentido na tendência do dólar nas próximas semanas, mas a decisão em si já era mais ou menos esperada.”
Autoridades do BC já vinham afirmando que o atual estoque de swaps cambiais, correspondente a cerca de US$ 115 bilhões, já atende à demanda por proteção da economia brasileira. Esse discurso foi repetido na véspera pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
De maneira geral, agentes financeiros receberam bem a decisão do BC. Tanto o Goldman Sachs quanto o BNP Paribas elogiaram a estratégia e salientaram que o atual estoque de swaps tem gerado crescentes custos fiscais ao BC.
“Nos moldes que assumiu nos últimos meses, a eficácia da intervenção claramente se dissipou. O impacto marginal de um leilão diário de US$ 100 milhões em swap era quase inócuo quando ajustado para o tamanho do mercado de câmbio brasileiro”, escreveram os estrategistas do BNP Paribas Gabriel Gersztein e Thiago Alday em nota a clientes.
A perspectiva de rolagens integrais e a afirmação, da parte do BC, de que a autoridade monetária poderá realizar operações adicionais “por meio dos instrumentos cambiais ao seu alcance” também deve contribuir para limitar a pressão cambial.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast