A nova queda nos preços das commodities no exterior e a tensão política na economia grega instaurou um clima de aversão ao risco global nesta segunda-feira (5), levando ao fortalecimento do dólar em relação as principais moedas internacionais.
No Brasil, o quadro é agravado pela cautela dos investidores em relação à deterioração das contas públicas, segundo operadores, que esperam por sinalizações mais claras por parte do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sobre as medidas que serão tomadas para colocar a economia nos trilhos.
Levy toma posse nesta segunda, às 15h (de Brasília). Nesse cenário, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, mostrava valorização de 0,82% sobre o real, às 12h50, cotado em R$ 2,715 na venda.
Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançava 0,85% no mesmo horário, para R$ 2,716. Entre as 24 principais moedas emergentes, apenas três subiam em relação ao dólar: a lira turca (+0,52%), o novo soles peruano (+0,21%) e o baht tailandês (0,05%).
Além das questões pontuais, operadores citam que a cotação do dólar segue pressionada pelo fortalecimento da economia dos Estados Unidos, que pode provocar um aumento antecipado nos juros daquele país, gerando a saída de recursos dos emergentes, como o Brasil.
Assim, com uma oferta menor da moeda americana nesses países, o valor do dólar tende a subir ainda mais. As preocupações se mantêm com a menor atuação do Banco Central do Brasil no câmbio.
No primeiro pregão de 2015, o BC cortou pela metade a ração de leilões diários que vinha realizando em 2014, passando de US$ 200 milhões para até US$ 100 milhões. A redução havia sido anunciada na terça-feira (30).
Além do valor menor, o prazo de renovação do programa de venda de contratos do chamado "swap" cambial (equivalente a uma venda futura de dólar) foi cortado: vai vigorar até 31 de março. Até então, ele era sempre renovado por seis meses desde que foi criado, em 22 de agosto de 2013.
Nesta segunda, o BC vendeu 2 mil contratos de swap, por US$ 98,2 milhões. A avaliação de operadores é que o corte, além de necessário, já era esperado. Em relatório divulgado na última semana, a equipe de análise do JPMorgan avaliou o movimento como um sinal, "sugerindo a intenção [do BC] de eventualmente cessar a oferta diária de swaps".
Para o banco, o dólar pode chegar a R$ 3 até o fim de 2015. "O atual patamar é entre R$ 2,60 e R$ 2,70. Não tem fugido muito disso. A menor atuação do BC não é omissão. A autoridade não quer alimentar a ideia de que há um teto para o dólar", disse Reginaldo Gelhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.
Em nota divulgada na semana passada, o economista do Goldman Sachs Alberto Ramos afirmou acreditar que "a economia [brasileira] precisa mais do que nunca de um significante e permanente ajuste fiscal, em vez de mais atuações do BC no câmbio", para que o real encontre um ponto de equilíbrio.
Bolsa
A aversão ao risco global também afeta negativamente as Bolsas nesta segunda-feira. No Brasil, o principal índice de ações nacional, o Ibovespa, caía 2,09%, às 12h50, para 47.497 pontos. O volume financeiro girava em torno de R$ 1,629 bilhão.
A queda de 6,83%, para R$ 8,72, dos papéis preferenciais da Petrobras, sem direito a voto, contribuía para manter o índice no vermelho. A estatal segue no foco de uma série de denúncias de corrupção que a impediram de divulgar seu balanço referente ao terceiro trimestre do ano passado. Os papéis ordinários da petroleira, com direito, recuavam 6,66%, para R$ 8,40 cada um.