O dólar fechou com a maior alta porcentual frente ao real em quase dois meses nesta quarta-feira (22), refletindo preocupações com a situação fiscal do governo brasileiro e acompanhando o fortalecimento da moeda norte-americana nos mercados externos, diante de expectativas de juros mais altos nos Estados Unidos ainda neste ano.
O dólar avançou 1,65%, a R$ 3,2257 na venda, maior alta desde 26 de maio, quando avançou 1,68%.
As atenções do mercado nesta quarta-feira se voltaram para a expectativa de anúncio pelos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, nesta tarde, de uma nova meta de superávit primário para este ano.
O governo deve anunciar ainda hoje que a meta de superávit primário para 2015 será reduzida de 1,1% para 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB). Uma fonte disse que o objetivo para 2016 também será reduzido.
“Uma redução muito significativa na meta pode alertar as agências (de classificação de risco) de que a situação no Brasil vai demorar muito mais para melhorar”, disse o operador Glauber Romano, da corretora Intercam.
Classificação de risco
A grande preocupação do mercado é que o Brasil, por conta da deterioração das contas públicas, venha a perder o cobiçado grau de investimento pelas agências de agências de classificação de risco.
“A chance de perder o grau de investimento assusta muita gente, principalmente estrangeiros. Se parecer que o Brasil está caminhando para isso, o mercado vai piorar significativamente”, disse o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo.
O mercado já precificou a possibilidade da agência Moody’s de cortar o rating soberano brasileiro para o último patamar dentro do grau de investimento, depois de recente missão da agência ao país, mas teme que a agência atribua perspectiva negativa para a nota.
Juros nos EUA
Nos mercados externos, o dólar também se fortalecia em relação a moedas como os pesos chileno e mexicano, dando continuidade à escalada das últimas semanas em meio a expectativas de que os juros nos EUA devem subir ainda neste ano. O aperto monetário na maior economia do mundo pode atrair para lá recursos aplicados em outros países, como o Brasil.
Essas expectativas foram fortalecidas nesta sessão após as vendas de moradias usadas nos EUA avançarem em junho para o nível mais alto em quase 8 anos e meio, sinal de demanda reprimida que deve impulsionar a recuperação do mercado imobiliário e a economia em geral.
“A tendência de longo prazo do dólar é de alta e o mercado está cada vez mais colocando isso no preço”, disse o operador de uma corretora nacional, que preferiu não se identificar.
Swaps
Nesta manhã, o Banco Central vendeu a oferta total no leilão de rolagem de swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares. Com isso, já rolou o equivalente a US$ 4,511 bilhões, ou cerca de 42% do lote que vence no início de agosto, que corresponde a US$ 10,675 bilhões.