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Queda

Economia recua 0,6% e país entra em recessão

Mantega: resultado “ficou aquém das nossas expectativas” | Levi Bianco/Brazil Photo Press
Mantega: resultado “ficou aquém das nossas expectativas” (Foto: Levi Bianco/Brazil Photo Press)

Conforme já era esperado pelo mercado, a economia brasileira está em recessão. A soma de tudo que é produzido no país apresentou uma retração de 0,6% no segundo trimestre de 2014 e, aliada à revisão do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que caiu 0,2%, o país se encontra no cenário conhecido como recessão técnica, quando a economia do país encolhe por dois períodos seguidos. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

INFOGRÁFICO: Veja a situação econômica do Brasil nos dois primeiros trimestres de 2014

A queda não ficou restrita a um setor. Os serviços caíram 0,5%, puxados para baixo especialmente pela atividade comercial, que encolheu 2,2% de abril a junho. A agropecuária se manteve praticamente estável, com ligeira alta de 0,2%.

Por fim, os piores resultados se concentram na indústria, que registra a quarta queda consecutiva. De uma maneira geral, o setor recuou 1,5%, mas algumas atividades fecharam o período com uma queda ainda mais preocupante: a construção civil encolheu quase 3% e a indústria de transformação caiu 2,4%. "É curioso, pois a indústria concentra a grande maioria dos pacotes de incentivo e recuperação que o governo federal lançou nos últimos meses", afirma o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília Roberto Ellery.

A última vez que o Brasil passou por um cenário de encolhimento consecutivo foi em 2009, no auge da crise econômica mundial. "Naquele momento, o mundo inteiro sofria as consequências da crise. Hoje, isso é bem questionável. O governo atribui ao cenário externo, mas os Estados Unidos e Europa passam por um período de recuperação muito diferente do mercado interno", afirma o professor de macroeconomia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Sérgio Antunes Valle.

Consumo

O principal motor da economia nos últimos anos, o consumo das famílias, ainda que em alta, confirmou sua desaceleração. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, o consumo subiu 0,2% e em relação ao ano anterior o índice aumentou 1,2%. "É pouco e, mesmo assim, o resultado só cresce menos que o consumo do governo. Algo está errado", conclui Ellery. Nos últimos três trimestres, o consumo tinha registrado altas de 2,2%, 2,5% e 2,4%.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, culpou o cenário internacional fraco, a seca e a Copa pelo resultado negativo da economia. Ele disse que o resultado "ficou aquém das nossas expectativas" e que a previsão de crescimento de 1,8% para este ano terá de ser revista.

Queda nos investimentos foi a pior parte do PIB

Agência O Globo

Os dados do PIB do segundo trimestre incluem muitos recordes negativos, como indústria, taxa de poupança e construção civil. Mas um dos números chamou a atenção dos analistas, principalmente por também indicar o que pode vir por aí: o nível de investimento, apontado sobretudo pela taxa de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que são os investimentos em máquinas, equipamentos e construção civil.

O índice teve queda em todas as comparações feitas pelo IBGE. Frente ao trimestre anterior, recuou 5,3%, pior taxa desde o primeiro trimestre de 2009, completando uma sequência de quatro resultados negativos consecutivos. Em relação ao mesmo período de 2013, a contração chegou a 11,2%, também a pior em cinco anos. Com isso, o acumulado em 12 meses, que estava em terreno positivo há quatro trimestres, voltou a ficar negativo, em 0,7%.

Sem otimismo

Para Silvia Matos, professora da Fundação Getulio Vargas, o dado indica que os próximos meses podem continuar fracos daqui para frente, mesmo depois da contração de 0,6% no segundo trimestre. "Há quatro trimestres o investimento está desabando. Uma parte é explicada pela queda da indústria, que não tem motivos para investir. Por outro lado, esse ciclo de compras de ônibus e caminhões foi temporário. Não há sinal de recuperação rápida", afirma Silvia, que esperava alta de 0,6% do PIB em 2014, e agora revisou a projeção para 0,4%.

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