No início de novembro deste ano, no Gartner Symposium, em Barcelona, o vice-presidente da Gartner, Mark Raskino, disse: “Todas as empresas vão competir como parte de um ecossistema de negócios”. E completou: “Os ecossistemas de negócio não são apenas para empresas digitais ou companhias de grande porte”.
Acompanhe a Gazeta do Povo no LinkedIn
Enxergar o mundo dos negócios como um ecossistema é o novo lugar-comum no universo no corporativo. O termo usado na biologia para definir a relação entre os seres vivos e o meio ambiente passou a representar as interações entres empresas, fornecedores, concorrentes, clientes e governo para criação de valor. E não foi à toa.
A partir da década de 1990, as empresas perceberam que não possuíam todo o conhecimento e a tecnologia necessária para continuar inovando na velocidade que o consumidor deseja. Com isso, começaram a se relacionar com pequenas empresas, fornecedores, concorrentes, clientes, instituições de ensino e governo para desenvolver produtos e serviços e incorporar novas inovações que são criadas.
Essa relação de cooperação e dependência fez o termo ecossistema cair como uma luva para descrever a forma como o mundo corporativo passou a se organizar. Hoje, a palavra até caiu no modismo, pois há ecossistema de tudo: empreendedor, de startups, de inovação, de empresas de tecnologia, entre outros.
Derivações à parte, olhar para as relações de mercado como um ecossistema e encontrar o seu papel virou etapa fundamental para quem quer crescer, seja pequena ou grande empresa. “Toda empresa está inserida em um ecossistema que afeta os seus negócios. Ela pode não saber e não participar ativamente”, explica o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) Leonardo Gomes.
Um ecossistema pode surgir tanto a partir de uma inovação ou tecnologia quanto de um setor de mercado. Normalmente, grandes empresas puxam a formação do ecossistema e atuam como atores principais, fomentando a participação dos demais negócios. A gestão do ecossistema, porém, acontece de maneira natural, assim com na biologia. É o próprio mercado que vai evoluindo e impulsionando a ação dos atores.
Um exemplo de ecossistema criado a partir de uma inovação é a música digital. Com o lançamento do Ipod em outubro de 2001, a Apple revolucionou o cenário da música digital e criou um novo ecossistema. Vieram desde as empresas que fazem acessórios para o Ipod até as produtoras que licenciam música via Itunes. Os artistas e consumidores também mudaram a maneira de consumir e produzir música e novos concorrentes surgiram usando a mesma tecnologia. Todos atuando em prol de impulsionar a música digital.
Mas não são somente novas tecnologias e inovações que derivam ecossistema de negócios. No Brasil, por exemplo, o consumo de cerveja artesanal está fazendo surgir uma série de negócios que têm como objetivo difundir a cultura cervejeira e criar valor através do consumo do produto. É o caso das microcervejarias, das microesmalterias, das escolas para cervejeiros e de rotas de destinos turísticos.
Encontrar o seu ecossistema virou prioridade entre as pequenas e as grandes empresas
Encontrar o seu ecossistema de negócio e descobrir qual a sua função dentro dele virou prioridades entre as empresas. A Natura, por exemplo, mapeou todas as organizações com as quais se relaciona em atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Foram encontrados 298 atores e traçadas estratégias organizacionais a partir das oportunidades mapeadas no ecossistema.
Segundo o professor da USP Leonardo Gomes, o primeiro passo para identificar o seu ecossistema é pensar no objetivo principal da empresa: se participar de um processo de inovação ou de criar valor a partir de um setor de mercado ou de uma inovação já existente. Depois, descobrir de quem ela depende para criar valor ou para capturar valor. A última etapa seria identificar as regras invisíveis do ecossistema e ver como ela pode estar inserida.
Gomes afirma que as empresas brasileiras têm dificuldade de identificar qual é o seu ecossistema porque são resistentes à ideia de que dependem de terceiros para crescer. “E quando percebem que não conseguem fazer tudo sozinhas, acham que cooperar com outros atores é negativo”, diz o especialista em inovação.
Para as grandes empresas, estar inserida em um ecossistema permite que a organização inove mais rápido e com menos custos enquanto o mercado se desenvolve. “Ela passa a focar no seu core business e usa a competência de terceiros para inovar”, diz Gomes. Por outro lado, alerta o especialista, a deixa mais vulnerável à competição.
Já para os pequenos negócios a vantagem está em ter acesso a recursos dos quais não possuem. “Imagine uma desenvolvedora de aplicativos. Colocando o app no sistema IOS, da Apple, ela consegue atingir toda a gama de clientes do IOS”, explica Gomes. A desvantagem está em ter que seguir as regras dos atores mais influentes do sistema.
Bolsonaro “planejou, dirigiu e executou” atos para consumar golpe de Estado, diz PF
PF acusa Braga Netto de pressionar comandantes sobre suposta tentativa de golpe
Governadores do Sul e Sudeste apostam contra PEC de Lula para segurança ao formalizar Cosud
Congresso segue com o poder nas emendas parlamentares; ouça o podcast
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast