Os resultados das eleições deste domingo (7) na França e na Grécia impulsionaram quedas nas bolsas de valores da Ásia e deverão aprofundar as incertezas entre investidores nesta semana, já que colocam em xeque a solução da crise das dívidas na Europa, segundo economistas e analistas de mercado. O índice Nikkei 225, da Bolsa de Tóquio, fechou esta segunda-feira com queda de 2,78%, enquanto na China o índice Shangai Composite recuou 0,28% e Taiwan perdeu 2,11%. Na Austrália, a Bolsa de Sidney encerrou os negócios recuando 2,23% e, na Coreia do Sul, a Bolsa de Seul fechou em queda de 1,7%. O índice Hang Seng, da Bolsa de Hong Kong, encerrou o pregão em baixa de 2,61%. Além das eleições na Europa, as bolsas asiáticas refletem também ao pessimismo nos mercados ocidentais na sexta-feira, quando dados ruins do mercado de trabalho dos EUA derrubaram cotações.

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O resultado das eleições na Grécia ameaça a coalização governista e, portanto, os acordos que mantêm o país no euro. Na França, a eleição de François Hollande como presidente deverá trazer mudanças na aliança com a Alemanha, abrindo espaço para flexibilizar a política de austeridade defendida pelos alemães.

Após a Europa abalar os mercados no segundo semestre do ano passado, líderes europeus firmaram um pacto de responsabilidade fiscal e cortes de gastos públicos foram colocados como exigência para pacotes de socorro - como no caso da Grécia. Governos de perfil tecnocrata não eleitos foram apoiados na Itália e na Grécia. O Banco Central Europeu (BCE) atuou para oferecer liquidez ao sistema financeiro e o alívio se traduziu em valorização nas bolsas em janeiro e fevereiro.

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Esse caminho foi traçado no âmbito da União Europeia (UE), com apoio do BCE e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas por trás de tudo estava a aliança entre o presidente francês Nicolas Sarkoy, que perdeu a corrida para reeleição ontem, e a chanceler alemã, Angela Merkel - a ponto de a dupla ficar conhecida por "Merkozy". Agora, a reação de investidores dependerá dos rumos da nova aliança entre Merkel e Hollande.

"Agora, teremos a dupla "Merlande", que aparentemente soa pior do que a anterior", ironiza a economista Monica Baumgarten de Bolle, professora da PUC-Rio e sócia da consultoria Galanto.

Com aliança desfeita, aumenta o risco político

Felipe Casotti, gestor de renda variável da Máxima Asset Management, vê o resultado das eleições de ontem como um aumento do risco político na crise europeia. Portanto, os mercados não deverão reagir bem esta semana. "Uma aliança importante foi desfeita", afirma Casotti, referindo-se a Merkel e Sarkozy.

Monica de Bolle aposta numa reação "limitada" nos mercados. Isso porque a eleição de Hollande já era esperada e, na avaliação da economista, não haverá espaço para o novo governo alterar decisivamente a condução da crise.

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No domingo, Hollande declarou no discurso da vitória que a "a austeridade não pode mais ser uma fatalidade". Para o professor Luiz Carlos Prado, do Instituto de Economia (IE) da UFRJ, com o novo governo francês, a política de austeridade defendida pela Alemanha terá que mudar. As altas taxas de desemprego e as diversas trocas de governo na Europa desde o agravamento da crise - com destaque para Itália, Grécia, Espanha e, agora, a França - mostram que o corte de gastos públicos a todo o custo não se sustenta.

No entanto, na avaliação de Monica, da Galanto, uma flexibilização na austeridade ocorreria de qualquer forma. A forma como os cortes de gastos públicos estão sendo feitos, rápido demais, é insustentável. Por isso, até mesmo a chanceler Merkel e o presidente do BCE, Mario Draghi, já começaram a falar em apoio ao crescimento.

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