Com a economia mergulhada na mais profunda recessão em 25 anos, o mercado de trabalho brasileiro passou por um acelerado processo de piora em 2015, com reflexos sobre o emprego, a renda e a formalização do trabalho.
Segundo divulgou o IBGE nesta terça-feira (15), a taxa de desemprego do país cresceu para 8,5% na média do ano passado, a maior já medida pela Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), iniciada em 2012. Esse resultado ficou 1,7 ponto percentual acima da média de 2014 (6,8%), a piora mais acelerada registrada nesses quatro anos da pesquisa de emprego do IBGE.
O mercado de trabalho foi afetado por uma combinação de aumento do número de pessoas dispostas a trabalhar com as demissões nos mais variados setores da economia, incluindo a indústria e a construção.
O total de pessoas em idade ativa (14 anos ou mais) e disposta a trabalhar -a chamada força de trabalho- era de 101,36 milhões nos últimos três meses de 2015, 2 milhões a mais do que em igual período de 2014, ou um aumento de 2%.
O problema é que o mercado foi incapaz de absorvê-los. Pelo contrário. A população ocupada (empregada) estava 0,6% menor no quarto trimestre do ano passado frente a um ano antes. Eram 600 mil trabalhadores ocupados a menos.
Desta forma, o número de pessoas que procurou emprego sem encontrar estava era de 9,087 milhões no último trimestre de 2015, crescimento de 40,8% ante o mesmo período de 2014. Isso significou 2,6 milhões de pessoas a mais.
Já o rendimento médio real (descontada a inflação) foi de R$ 1.944 na média do ano passado, queda de 0,2% na comparação com o ano anterior (R$ 1.947). Para o IBGE, essa variação é considerada estatisticamente estável.
No fim do ano, o cenário continuava indicado deterioração. A taxa de desemprego do quatro trimestre foi de 9%, revelando uma piora frente ao terceiro trimestre de 2015 (8,9%) e do mesmo período de 2014 (6,5%). Trata-se também da maior taxa de desemprego da série histórica da pesquisa.
Neste cenário, o rendimento real (descontada a inflação) foi de R$ 1.953 dentro do quarto trimestre do ano passado, queda de 1,1% frente aos três meses anteriores e de 2% ante o mesmo período do ano anterior.
Setores
Dos dez grupos de atividades acompanhados pelo IBGE, a indústria foi a que mais dispensou no ano passado. Foram 1,06 milhão de demissões ao longo de um ano até o quarto trimestre de 2015, o que significa 7,9% de ocupados a menos.
Outro com fortes dispensas foi um agrupamento abrangente que inclui atividades como informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas. Esse setor cortou 913 mil pessoas (8,7% menos).
Com grandes investimentos parados e o setor imobiliários desaquecido, a construção surpreendeu no fim do ano. O setor contratou 619 mil pessoas do terceiro para o quatro trimestre do ano passado, alta de 8,5%
Formalização
Toda essa piora do mercado de trabalho vem acompanhada da perda de qualidade do emprego. O número de trabalhadores com carteira assinada recuou de 36,5 milhões do quatro trimestre de 2014 para 35,4 milhões no mesmo período do ano passado.
Uma parcela significativa desses trabalhadores buscou no trabalho autônomo uma forma de se reinserir no mercado de trabalho. São os chamados conta própria -pessoas que trabalham num negócio próprio sem auxiliar remunerado.
Segundo a pesquisa do IBGE, esse contingente -que vai de serventes a donos de pequenas franquias- cresceu 5,2% no período de um ano até o quatro trimestre de 2015. Isso representa 1,14 milhão de pessoas a mais, para 22,9 milhões de trabalhadores.
Vale lembrar que, para fazer essa pesquisa, os entrevistadores do IBGE visitam cerca de 210 mil domicílios a cada trimestre com perguntas sobre emprego e renda. Os dados são coletados em cerca de 3.500 municípios do país.
Com o fim da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE, marcado para março (quando serão conhecidos dados de fevereiro), a Pnad Contínua se tonará a principal pesquisa de emprego e renda do instituto.
Segundo Tiago Cabral, economista do Ibre (Instituto de Economia da Fundação Getulio Vargas), a piora do mercado de trabalho refletiu a rápida queda da confiança de empresários e consumidores com a economia.
“Isso foi provocado pela instabilidade institucional interna e pela crescente restrição do crédito às famílias, com a piora da inadimplência. Num grau menor, foi reflexo do aumento das incertezas no cenário internacional”, afirma Cabral.
Segundo José Márcio Camargo, economista da Opus Investimentos, o mercado de trabalho deve continuar piorando neste ano e uma recuperação pode demorar. Ele afirma que o emprego costuma ser o último a reagir.
“Vai ser difícil e demorado recuperar os empregos, principalmente porque a economia vai se recuperar lentamente. Vai demorar talvez dois a três anos para vermos uma recuperação efetiva do mercado”, disse ele.
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