O desemprego na Argentina é de 9,3% e atinge 1,165 milhão de pessoas, segundo o primeiro levantamento divulgado pelo governo de Mauricio Macri. O dado referente ao segundo trimestre foi divulgado nesta terça-feira (23), pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec).
As medições haviam sido interrompidas logo após a posse de Macri, que em dezembro decretou “emergência estatística” em razão das denúncias de adulterações nos números difundidos pelo kirchnerismo. O último índice, visto com desconfiança por consultorias econômicas, tinha sido de 5,9%, no segundo trimestre de 2015, às vésperas da eleição presidencial.
A falta de transparência dos dados oficiais durante o governo de Cristina Kirchner foi condenada formalmente pelo FMI e afetou tanto os investimentos no país quanto a tentativa de buscar financiamentos.
Sem uma estatística estatal confiável, o Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA) tornou-se a referência em medições, principalmente de pobreza e inflação. O diretor do instituto, Agustín Salvia, disse que o novo dado está próximo de medições independentes e parece confiável.
Mas o elogio à qualidade da medição não se estende às iniciativas do novo governo. Segundo levantamento da UCA de maio que apontou desemprego de 9,4%, a herança kirchnerista é pesada, mas as medidas de abertura externa e ajuste interno de Macri levaram o país a ter 1,3 milhão de pobres a mais no primeiro semestre, aumento de 3%. Segundo a universidade, 11 milhões dos 41 milhões de argentinos têm empregos precários – 57% dos trabalhadores.
Salvia afirma que uma das explicações para o alto desemprego é a paralisação no setor de construção. Cerca de 62 mil operários foram atingidos pelo congelamento de obras públicas em razão da troca de governo. Macri mandou parar todas as licitações em busca de irregularidades. Houve no setor um recuo acumulado de 12,4% no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2015.
O presidente tem sido criticado pela demora na retomada do investimento em infraestrutura. “Para uma melhora do nível de emprego, será necessária a reativação do investimento privado e das obras públicas”, diz Salvia. A previsão é de que o PIB recue de 0,8% a 1,5% neste ano.
Tarifa
Paradoxalmente, o principal revés do governo no ano, a anulação há seis dias pela Corte Suprema do tarifaço que aumentou contas de gás, luz e água em até 10 vezes, levou à revisão da previsão de inflação, o que poderia ajudar a reativar o consumo. O aumento de preços, acima dos 40% nos últimos 12 meses, tem sido a principal preocupação da Casa Rosada. Para agosto, as previsões são de um índice próximo a 0%, em razão do veto ao reajuste dos serviços. Caso a inflação mensal se mantenha abaixo dos 2% nos próximos meses, o governo atingiria a meta interanual de 25%.
Segundo a economista Marina Dal Poggetto, da consultoria Bein, o desemprego é reflexo da baixa atividade econômica vista em junho e julho. “Em agosto houve uma melhora, o que nos leva a acreditar que há um ponto de inflexão. A inflação afetou diretamente o consumo, mas em agosto prevemos que fique em 1,5% ou até seja negativa em razão do freio ao tarifaço”, diz.
Em relação ao impacto da recessão brasileira no quadro argentino, ela admite que a queda pela metade na exportação de automóveis em relação a 2013, por exemplo, afetou o emprego, mas não acredita que seja a principal causa dos problemas.
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