Após um acordo preliminar, os legisladores norte-americanos se preparavam para votar na segunda-feira o pacote de resgate a Wall Street de 700 bilhões de dólares para comprar papéis podres e estancar a crise financeira do país, enquanto a Europa corria para salvar três bancos em dificuldades.
Com os mercados globais acompanhando cada movimento em Washington, um senador republicano disse que o pacote pode ser votado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado na segunda-feira. Enquanto isso, a crise aterrissou no outro lado do Atlântico e o banco belga-holandês Fortis e a concessora de hipotecas britânica Bradford & Bingley viram a nacionalização.
O presidente dos EUA, George W. Bush, disse em comunicado no domingo que o pacote fornece as ferramentas e os recursos para proteger a economia do país de uma quebra geral. Ele expressou confiança de que o plano será aprovado rapidamente.
O dólar operava em alta ante o euro na noite de domingo, enquanto os futuros de Wall Street operavam perto da estabilidade. Analistas prevêem um rali dos mercados na segunda-feira, mas alertaram que ele não deve ser duradouro.
A bolsa asiática iniciou o pregão na noite de domingo (horário de Brasília) em ligeira queda, mas logo depois apontava alta de 0,31 por cento.
"O pacote é apenas um band-aid sobre um problema muito grande. Vai ajudar Wall Street no curtíssimo prazo, mas não ajudará a economia real. A economia dos EUA enfrenta desafios em muitas frentes", disse Kathy Lien, diretora de pesquisa cambial do GFT Forex em Nova York.
A presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, disse que o pacote não é apenas um "resgate de Wall Street", mas também uma forma de proteger os contribuintes e a economia. Ela enfatizou que o plano precisa de apoio dos dois partidos do país.
O líder da maioria do Senado, Harry Reid, disse que o Senado pode votar o projeto até quarta-feira.
O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, afirmou estar confiante de que o plano será suficiente para estimular os mercados financeiros e o fluxo de crédito.
Acordo preliminar
Os líderes do Congresso dos dois partidos dos EUA chegaram a um acordo inicial no domingo, mas disseram que ainda há dúvidas sobre se o programa, que usará dinheiro do contribuinte para comprar ativos hipotecários podres, é a salvação.
"Vamos dar nitroglicerina para evitar um ataque cardíaco e devolver um pouco de cor a nossos rostos pálidos", disse Sung Won Sohn, professor de economia da Universidade da Califórnia.
Com muitos norte-americanos lutando para salvar seus lares da execucação de hipotecas, os legisladores têm de enfrentar a reação dos cidadãos comuns contra um plano de salvação para os bancos de Wall Street, que muitos culpam por criarem um mercado imobiliário superaquecido e empréstimos arriscados.
Nas últimas horas das conversas, democratas e republicanos correram para incluir salvaguardas para os contribuintes e provisões que permitiriam ao governo recuperar recursos se os preços imobiliários se restabelecerem e seus créditos ruins se valorizarem.
O líder republicano da Câmara disse que o risco para o contribuinte foi reduzido.
A legislação proposta desembolsaria os 700 bilhões de dólares em etapas. Os primeiros 250 bilhões de dólares seriam liberados quando a legislação for aprovada, enquanto outros 100 bilhões poderiam ser gastos se o presidente decidir ser necessário. Os restantes 350 bilhões estariam sujeitos a uma análise do Congresso.
Os líderes republicanos da Câmara dos Deputados gastaram mais de duas horas em uma reunião fechada no domingo respondendo a membros da Câmara questões sobre o pacote.
Não havia sinais de que a aprovação poderia correr perigo após a reunião.
"Eles estão muito mais felizes agora" do que na semana passada, quando ficaram irados com a proposta inicial do Tesouro para salvar Wall Street, disse o deputado James Walsh sobre seus colegas republicanos.
A deputada republicana Marsha Blackburn disse estar tendendo contra o projeto, mas que "provavelmente" ele será aprovado".
"A aprovação do plano é apenas o primeiro passo. O segundo passo é a execução dele e depois restam as dúvidas sobre como os ativos serão comprados", disse Michael Pond, estrategista do Barclays Capital em Nova York.
Pânico na Europa
Na Europa, o governo resgatou o grupo financeiro belga-holandês Fortis no domingo, após o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, convocar reuniões emergenciais para salvar um dos 20 principais bancos da Europa.
O primeiro-ministro da Bélgica, Yves Leterme, disse que os governos de seu país, de Luxemburgo e da Holanda investirão 11,2 bilhões de euros (16,4 bilhões de dólares) no banco, que venderá partes do ABN Amro que comprou no ano passado.
Os problemas do Fortis --cujas ações despencaram em um terço na última semana-- começaram após a compra do ABN em um consórcio com o Royal Bank of Scotland e o Santander no ano passado, em um acordo de 70 bilhões de euros (102 bilhões de dólares), bem quando a crise de crédito começou, golpeando o valor dos ativos bancários.
Na Alemanha, o banco Hypo Real Estate está tendo conversações urgentes com o regulador bancário alemão Bafin e o Ministério das Finanças para solucionar os problemas de refinanciamento do banco em meio à crise de crédito, disseram no domingo fontes próximas à situação.
Na Grã-Bretanha, o governo deverá anunciar na segunda-feira o plano de nacionalização da Bradford & Bingley e tomará o controle de 41 bilhões de libras (75 bilhões de dólares) dos negócios de hipotecas residenciais, disse uma fonte próxima às negociações.
Além disso, o gigante bancário espanhol Santander disse no domingo que irá comprar a rede de depósitos varejistas e sucursais da Bradford & Bingley, por cerca de 400 milhões de libras (735 milhões de dólares).
Apoio qualificado
Os dois candidatos presidenciais dos Estados Unidos ofereceram apoio para a proposta de emergência, um assunto que ameaça encobrir suas campanhas a menos de seis semanas da eleição.
"Isto é algo que todos nós vamos ter que engolir a seco e aceitar", disse o republicano John McCain em entrevista à rede de teelvisão ABC. "A opção de não se fazer nada é simplesmente inaceitável."
O democrata Barack Obama disse que provavelmente apoiará o pacote. "Minha inclinação é apoiá-lo", disse ele no programa "Face the Nation" da CBS.
"Temos que lembrar como chegamos a isso. Não tanto para atribuir culpa, mas para entender as escolhas que o próximo presidente vai enfrentar."
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