O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta segunda-feira que não existe ainda um candidato comum dos países emergentes para o cargo de diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao ser questionado se o apoio da China à candidatura de Christine Lagarde, ministra das Finanças da França, significaria a posição dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), Mantega respondeu: "Não há candidato de emergentes neste momento". Segundo ele, o Brasil irá aguardar a apresentação de todos os candidatos, até o dia 10 de junho, e somente depois de conversar com todos tomará uma posição.
Mantega informou que no início do processo de escolha do novo chefe do FMI enviou uma carta para todos os ministros da área de economia do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) com a proposta para que a escolha fosse por meritocracia e não pela nacionalidade. "Precisamos superar os princípios estabelecidos para que todos possam ocupar este espaço, desde que atendam aos requisitos de competência e experiência", disse.
Para ele, é possível haver uma alternância entre os países avançados e os países emergentes na direção do FMI. "Mas que a escolha seja feita pela competência de gerir o Fundo e não pela nacionalidade", reforçou, em entrevista ao lado de Christine Lagarde.
O ministro da Fazenda defendeu que não haja uma "nacionalidade firme, definida" para a diretoria do FMI. Segundo ele, a regra informal de que sempre um europeu deve estar à frente do Fundo, enquanto um americano ficaria no comando do Banco Mundial, está "ultrapassada". "O G-20 já superou essa regra. Devemos seguir os passos do G-20 e deixar que a direção do FMI seja preenchida por uma pessoa de qualquer nacionalidade", argumentou, acrescentando que os quesitos de seleção devem ser competência, experiência e compromisso com as reformas.
Mantega também solicitou uma participação maior dos países emergentes no corpo burocrático do Fundo. "Deve haver representação maior dos emergentes para trabalhar com um espírito mais universal do que regional." Para ele, embora o Fundo esteja mais dedicado a resolver uma crise europeia neste momento, não quer dizer que um europeu seja o candidato mais adequado para ocupar a vaga de diretor-gerente do FMI. Como exemplo, Mantega citou que se isso fosse uma verdade, o Brasil deveria ter estado à frente do Fundo no passado, já que recorreu ao organismo internacional várias vezes.
"Essa não é uma regra válida. É preciso de um diretor que veja os problemas mundiais, mas que seja isento em relação a eles", disse o ministro.
Conforme o ministro, o limite para a apresentação de propostas dos candidatos é o dia 10 de junho. A escolha, segundo ele, se dará em 30 de junho. "Esta semana, o presidente do Banco Central do México, Augustin Carstens, deve apresentar sua candidatura." Essas apresentações, segundo Mantega, mostram o "espírito democrático da campanha". Para ele, Lagarde é competente ministra.Reformas
Para Mantega, o importante para o Brasil é que o FMI continue com sua trajetória dos últimos três anos, quando passou por importantes reformas e colocou os países emergentes em posição de maior protagonismo. "Christine escolheu o Brasil em primeiro lugar para fazer sua campanha. Isso nos deixa muito satisfeitos" comentou. Segundo ele, com a representação de mais países, o FMI tornou-se uma organização mais eficiente para enfrentar problemas da economia global.
Mantega salientou que, durante seu mandato, Dominique Strauss-Kahn fez política não ortodoxa. "Durante a crise, o FMI recomendou políticas anticíclicas, o que não era típico do Fundo do passado. Desenvolvemos linha de crédito mais flexível sem condicionantes e demos a possibilidade de que emergentes tivessem participação maior no Fundo", disse.
O ministro destacou que, em 2008, houve uma maior participação a emergentes no FMI e que, em 2010, foi combinada outra reforma, numa etapa que deve ser cumprida até 2012. A intenção é que a participação do Brasil no Fundo passe de 1,4% para 3,3%. Ele acrescentou ainda que uma nova reforma deve ocorrer até o início de 2014. "O importante é que o novo diretor-gerente se comprometa a dar continuidade a novas reformas. Queremos um FMI mais forte, com participação maior dos emergentes na solução dos problemas mundiais", avaliou.
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