Aplicativo para chamar táxis em Curitiba: poder público age quando serviços estão disseminados e ameaçam setores estabelecidos| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

Futuro em xeque

Ao longo do tempo, a implantação de vários produtos, equipamentos e serviços foi vista com ressalvas pelo Estado ou por setores empresariais. Houve casos em que a falta de regulação acabou se mostrando benéfica ou prejudicial:

Música na rede

No início da década passada, gravadoras e artistas entraram em guerra contra o Napster, serviço de compartilhamento gratuito de músicas pela internet. Nos anos seguintes, coube a Steve Jobs enxergar a oportunidade e lançar a loja virtual iTunes, que vende canções e discos em formato digital. Hoje também são comuns os serviços que oferecem músicas via streaming – o que comprova que escutar e compartilhar música pela internet era mesmo um caminho sem volta.

Carros

Uma lei de 1865 na Inglaterra exigia que os primeiros veículos movidos a vapor tivessem uma tripulação de três pessoas, e que uma delas carregasse uma bandeira vermelha à frente, caminhando, para alertar os pedestres. A lei caiu alguns anos depois e permitiu o desenvolvimento de veículos mais rápidos e melhores.

Derivativos

Exemplo de área em que a falta de regulação causou problemas. A crise econômica de 2008 começou com em um mercado de títulos lastreados por hipotecas que não tinham supervisão do governo norte-americano. As apostas foram altas e com informações ruins. Dos cinco maiores bancos de investimentos dos Estados Unidos, três sucumbiram à crise e os efeitos foram sentidos por economias de todo o mundo.

Cheque pré-datado

Foi uma inovação brasileira criatda pelos lojistas, empresários e consumidores para lidar com a inflação alta. O governo não interferiu e, com o tempo, a própria Justiça interveio a favor da alternativa, decidindo que o cheque pré não poderia ser apresentado antes da data combinada entre as partes.

Cartão internacional

O cartão de crédito é um grande avanço para transações internacionais, mas o Brasil só permitiu seu uso no governo Collor. Por anos os brasileiros tiveram de viajar com dinheiro em espécie e não podiam comprar pelo correio com o cartão. Hoje, com o "boom" das compras on-line, parece impensável não contar com esse recurso.

Poluição

O governo Obama implementou em seu primeiro mandato uma série de padrões de eficiência a serem seguidos pela indústria automobilística de todo o país. Além de tornar os carros mais econômicos, as medidas pretendem diminuir a emissões de gases que contribuem para o efeito estufa. Neste caso, ao obrigar as indústrias a seguirem os padrões, a regulação acaba contribuindo para a inovação.

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A controvérsia recente entre a Urbs e os taxistas de Curitiba que usavam aplicativos de celular para buscar passageiros escancarou mais uma vez o descompasso que cerca a disseminação de novas tecnologias e o papel do Estado em regular estes serviços e produtos.

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O caso de Curitiba, em que a utilização dos apps foi colocada em xeque devido a uma necessidade de regularização, é emblemático, mas está longe de ser o único exemplo recente da queda de braço entre o poder público e empreendedores – e os próprios usuários, que ficam no meio do fogo cruzado.

Polêmicas semelhantes têm ganhado corpo porque, em geral, o Estado resolve agir somente quando os novos produtos e serviços já estão disseminados e ameaçam, de alguma forma, certos setores da economia ou o próprio poder público. É o caso da briga judicial que cerca o serviço de hospedagens pela internet Airbnb, plataforma que reúne 500 mil imóveis em 190 países. A prefeitura de Nova York tem apertado o cerco contra os criadores do serviço, atendendo a uma demanda das empresas de hotelaria – afinal, ao mesmo tempo que incentiva o aluguel "informal" de casas e quartos, a plataforma não paga impostos.

Para especialistas, as controvérsias partem justamente da dificuldade do Estado em se antecipar às novas tecnologias e criar regras e parâmetros que delimitem qual caminho pode ser seguido. Os efeitos deste descompasso são mais sentidos quando a inércia do poder público, ao invés de deixar o caminho livre para empreendedores e usuários, atravanca a inovação.

"Até recentemente, o 3G e o 4G não puderam ser implantados no Brasil até que o governo regulasse esse serviço. Para nós, empresários, isso é péssimo, porque às vezes estamos anos à frente para lançar algo mas esbarramos na falta de uma legislação que contemple essas tecnologias", afirma o diretor executivo da Morphy Digital Group, Marlon Souza.

O mesmo pode ser aplicado para a demora no país em criar um marco regulatório para o uso de sementes transgênicas, que atrasou em alguns anos o desenvolvimento de variedades específicas para certos climas – especialmente no Paraná, que inicialmente lutou contra a inovação.

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"A burocracia é o inimigo número um da inovação. Ela não necessariamente é ruim, afinal, seu objetivo é buscar isonomia, justiça. O problema é quando ela se transforma em uma barreira que freia qualquer empreendimento e só traz dificuldades", reforça o diretor-executivo do Centro Internacional de Inovação da Fiep, Filipe Cassapo.

Seja no Brasil ou no exterior, algumas tecnologias recentes ainda devem desafiar o Estado por um tempo antes que se chegue a um modelo de regulação razoável. Caso das impressoras 3D, que permitem a impressão doméstica de produtos variados que podem ser comercializados em seguida – de próteses dentárias a biquínis, passando por itens de decoração.

De olho na tela

O "boom" dos smartphones e das redes sociais também tem desafiado autoridades e colocado o próprio usuário como alvo. O Waze, aplicativo que informa em tempo real condições do tráfego nas cidades e a localização de blitze policiais, fez com que o Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) de Curitiba passasse a monitorar o dispositivo a fim de cercar os motoristas que "burlavam" as operações por meio do app – iniciativa implantada em várias outras cidades brasileiras.

Colaborou Guido Orgis

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