Entrar na joalheria Reffo é como fazer uma viagem no tempo. A loja, discreta na Rua Visconde de Nácar, ocupa o mesmo endereço desde a abertura do negócio pelos irmãos Aluízio e Jaci Reffo, em 1945. A família de imigrantes italianos ocupava o imóvel desde os anos 1930. Lá dentro, vencidas as barreiras que garantem a segurança de uma empresa que trabalha com metais e pedras preciosas, o ambiente também permanece tradicional. Móveis de madeira escura sustentam as vitrines onde estão joias e cristais. Nos fundos, a oficina para conserto e confecção de peças sob encomenda. Tudo muito discreto e elegante, no mesmo clima reservado de negociação mantido pelos herdeiros da joalheria, Murilo Reffo e os filhos Murilo Filho e Rodrigo, sob os olhos atentos da esposa, Regina.
Moderninhos
Murilo Filho é nutricionista por formação e trabalha no negócio da família desde 2008. A decisão de assumir a administração da empresa veio com a maturidade. “Cresci neste sobrado, respirando joia. Vim quando estava pronto”, diz. Para modernizar a gestão, tratou de conhecer mais sobre a produção e decidiu ficar com a parte estratégica. Para atrair os filhos dos clientes tradicionais da joalheria, aposta em ferramentas modernas, como redes sociais, mídia digital e eventos. “Também realizamos parcerias frequentes com restaurantes, com sorteios de joias entre os clientes”.
A configuração familiar da direção da empresa está alinhada com a gestão do negócio. O funcionário mais novo tem oito anos de casa. Na oficina, ourives treinados pelo fundador Aluízio ainda dão expediente e são responsáveis por uma das principais atividades da joalheria: a confecção e conserto de joias. Em 70 anos de atividades, os Reffo já receberam muitas personalidades nas suas saletas para negociação de peças que ornamentavam os expoentes da sociedade curitibana, como atesta um livro de dedicatórias montado em comemoração aos 25 anos da empresa. A fama de tradicional e exclusiva confunde-se com a de loja cara, estigma que a nova geração, representada por Murilo Filho, se concentra para mudar. “Temos preços competitivos e melhores do que marcas mais comuns”, diz.
Adaptar-se ao mercado foi o segredo da sobrevivência do negócio. Se antes o solitário de diamante era item obrigatório na lista de presente dos 15 anos de uma adolescente, hoje a joia disputa a preferência da aniversariante com outras opções sedutoras, como viagens ou smartphones. Entender essa mudança de comportamento – e outras que envolvem o segmento, como tendências de moda ou questões de segurança – foram fundamentais para permanecer com as portas abertas. “Nos anos 1980, era muito fácil vender o equivalente a um carro popular por dia. Isso não acontece mais e a empresa fez os ajustes necessários para os novos consumidores”, diz o executivo.
O novo perfil do cliente exigiu mudanças no design das peças vendidas e produzidas pela Reffo. Mais discretas, as joias são versáteis e vão do trabalho à festa. Itens clássicos como colar de pérolas, meias alianças e mesmo o solitário ainda são imbatíveis. “A diferença em relação à bijuteria é a capacidade de transformação. Se o desenho ficar defasado, pode ser reformado em uma nova peça. É eterna por não ser descartável, permite renovação”, diz Murilo Filho.
O neto de Aluízio estuda planos de expansão, que pode incluir uma unidade conceito ou novos modelos de vendas externas, que ainda estão sob estudo. O objetivo é crescer até 30% por ano, atraindo os novos clientes que possam herdar dos pais e avós a tradição de comprar joias Reffo, com o mesmo padrão de atendimento – reservado e exclusivo – que a empresa faz questão de manter.
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