Nichos
A Agência Curitiba de Desenvolvimento S/A prepara um mapeamento de atividades da economia criativa na capital. Foram identificados 12 nichos mais relevantes: Publicidade e Propaganda, Arquitetura, Artes e Antiguidades, Artesanato, Design e Moda, Audiovisual, Software, Artes Performáticas, Editoração, Games, TV e Rádio.
Opinião
Campo fértil para novas ideias e negócios
Cleverson Renan da Cunha, coordenador do MBA em Gestão Estratégica da UFPR
O brasileiro é reconhecido como um povo criativo. No entanto, ainda temos dificuldades para transformar essa criatividade em algo que cria valor para empreendedores e para a sociedade como um todo. Ainda estamos nos primeiros passos para a construção de um ecossistema que permita ou incentive a criatividade, a inovação e novos negócios. Esse caminho passa por ações individuais, institucionais e públicas.
Recentemente visitei um espaço de coworking. A informalidade do ambiente, o contato com outras pessoas e os espaços para todos conversarem e trabalharem juntos formam um contexto que facilita a geração e o compartilhamento de novas ideias. Nesses espaços, mais do que a redução de custos, é possível encontrar um ambiente que incentiva a inovação. Me fez lembrar dos antigos espaços públicos das pequenas cidades onde as pessoas se encontravam para conversar e fazer negócios.
As instituições também podem contribuir. Nos últimos anos, diversos negócios foram criados a partir das provocações e das ferramentas oferecidas nas disciplinas de empreendedorismo e geração de novos negócios das escolas e universidades, como exemplo da Asid (organização que presta assessoria na parte administrativa para Escolas Especiais Gratuitas), que surgiu no curso de Administração da UFPR.
O Estado também pode fazer sua parte. Um dos grandes exemplos no Brasil é o Porto Digital, do Recife-PE. Nesse ambiente, iniciativa privada, governo e sociedade se uniram para estimular a criação e desenvolvimento de empresas de base tecnológica.
Exemplos como esses reforçam a importância de pensarmos de forma sistêmica na disseminação de condições que favoreçam, a partir da primeira educação, o desenvolvimento de ações criativas, sua conversão em inovação e a transformação dessa em novos negócios. Ainda estamos longe da situação ideal, principalmente se consideramos a burocracia e nosso sistema educacional.
Literatura, cinema, música, arte popular e artesanato, design, gastronomia e arte digital são as áreas da economia criativa listadas pela Unesco, que mantém uma política de certificação de cidades com essas vocações produtivas. Mas o conceito pode ir além. "Há estudos que listam até 15 setores que podem ser classificados como economia criativa. Prefiro simplificar e amplificar essa abordagem. A criatividade é uma forma de impulsionar a economia de uma cidade ou região, com desenvolvimento, recursos, geração de emprego e renda em modelos de negócio que apostam no conhecimento e no capital humano", explica o relações públicas Jean Sigel, da Escola de Criatividade, de Curitiba.
A capital do Paraná é a 12.ª no ranking nacional de criatividade, de acordo com estudos da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), de 2011. É também uma das 22 cidades brasileiras com saldo positivo de mão de obra qualificada, acima de 18 anos com educação superior ou mais, entre 2005 e 2013, segundo dados do Ipea. Somado ao número de instituições de ensino de referência e uma organização urbana acima da média em relação aos grandes centros, Curitiba tem registrado crescimento nos empreendimentos ligados à economia criativa.
A cidade coleciona bons exemplos de espaços onde a criatividade é o motor de novos negócios. As escolas especializadas no segmento são focadas na capacitação e atualização de profissionais e procuram disseminar a aplicação da criatividade nos ambientes corporativos, seja na economia tradicional ou nas atividades da área de conhecimento e cultura.
Nova roupagem
A Escola de Criatividade, dos sócios Jean Sigel e Elói Zanetti, foi criada há cinco anos, período em que desenvolveu projetos para mais de 30 empresas, com 10 mil pessoas impactadas. "O processo criativo é a mola da inovação. E ele pode ser aplicado em diferentes áreas da economia. O importante é dar oportunidade para empresa inteira, sem importar a ordem hierárquica, manifestar suas ideias", explica Sigel.
Cursos regulares com enfoque na criatividade e workshops de atualização profissional estão na grade da Redhook School, montada pela publicitária Celinha Camargo há oito meses. Áreas como planejamento estratégico e de negócios ganham a roupagem da criatividade em aulas ministradas por expoentes de cada segmento. "O papel da escola é proporcionar novas conexões e experiências, além de desenvolver diferentes habilidades", explica Celinha.
O endereço da Redhook é um exemplo do ambiente criativo que Curitiba oferece. A escola está instalada na Fábrika, um centro de negócios pautados pela economia criativa, como escola de idiomas, academia de dança e de ginástica, gastronomia, espaço para eventos e de produção de conteúdo, como o Núcleo de Estilo de Vida da Gazeta do Povo.
Coworking permite compartilhar trabalhos e ideias
A economia pautada pela criatividade tem características peculiares no desenvolvimento dos negócios. Os empreendedores criativos buscam por espaços em comum, em que podem trocar ideias e experiências, em projetos que, muitas vezes, são desenvolvidos em parcerias.
Curitiba tem 18 empreendimentos de coworking, ambientes em que diferentes empresas dividem o espaço físico, mas também compartilham ideias e soluções. O Nex Coworking é o maior empreendimento do segmento do país. Em três anos de atividade, passou de 38 vagas para profissionais liberais para 235, com 74 estações de trabalho e 41 estúdios, em uma área de 1,7 mil metros quadrados. "Ambientes coletivos favorecem a criação de oportunidades e estimulam os contatos, dois importantes ativos da economia criativa", opina o empresário André Pergorer, sócio do Nex.
A advogada Regina Casillo não tem nenhuma dúvida sobre a força econômica dos criativos empreendedores. Há 22 anos, investiu na revitalização de um imóvel histórico no centro da cidade para a implantação do Solar do Rosário, que hoje reúne galeria de arte, espaço para eventos, editora, livraria, café e confeitaria, além de cursos de idiomas, arte, música e artes cênicas. "A aposta na economia criativa foi orgânica, natural, por acreditar no potencial do conhecimento como insumo", diz.
Mapeamento vai identificar segmentos criativos
A prefeitura de Curitiba está atenta ao potencial de geração de renda e riqueza da economia criativa. Na elaboração do novo Plano Diretor do município, procura contemplar questões que podem favorecer futuros empreendimentos no setor e potencializar os que já existem.
Um exemplo é o zoneamento multifuncional, outra característica dos empreendedores criativos. "Esse empresário quer concentrar trabalho, moradia, lazer e estudo em uma mesma região, o que tem reflexo em mobilidade e transporte, por exemplo", explica a diretora presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento S/A, Gina Paladino.
Diagnóstico
A entidade está concluindo um mapeamento da economia criativa na cidade, que será apresentado em setembro, indicando a localização dos empreendimentos da nova economia e suas áreas de atividade.
E, entre os 12 segmentos criativos locais já identificados, prepara um diagnóstico completo para o audiovisual, apontado pela Agência como o de maior crescimento em Curitiba.
"O trabalho vai ajudar a coordenar os agentes de produção do audiovisual, em um completo plano estratégico para orientar o seu desenvolvimento até o ano 2020", diz Gina.
O estudo deve ser divulgado em meados de outubro.
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