Trabalhar em uma startup pode ser o emprego dos sonhos. No entanto, para entrar em uma empresa deste segmento não basta apenas reunir habilidades técnicas e um bom currículo. É preciso que o profissional tenha também o perfil comportamental que estas companhias buscam – e é esta combinação que torna mais difícil o processo de contratação.
Segundo Vitor Torres, fundador e CEO do Contabilizei, startup que oferece serviços de contabilidade pela internet para pequenas e médias empresas, a dificuldade existe por conta da maneira como o próprio mercado doutrinou os profissionais, que se acostumaram a ser apenas executores de funções específicas, sem atentar para o todo do processo onde estão inseridos. “Os profissionais precisam entender que todos são responsáveis por tudo o que acontece, e não apenas por uma parte do negócio,” explica Torres.
Este contexto se traduz em um sentimento, conhecido no ambiente empreendedor com o senso de “ownership”. Ou seja, o trabalhador precisa sentir que também é dono do negócio. Desta maneira, segundo Torres, ele consegue tomar posse das suas atividades e trabalhar para atingir o objetivo determinado, mesmo que no caminho ele precise transitar entre outras áreas da empresa.
Inclusive, de acordo com Tiago Dalvi, é justamente esta abertura a novas experiências que caracteriza uma parte deste perfil comportamental do funcionário de uma startup. Ele é o CEO do Olist, uma plataforma que conecta artesãos e pequenos comerciantes a grandes varejistas. Em sua equipe ninguém é engessado na função inicial para a qual foi contratado, pensamento que permite muitas possibilidades de intercâmbio entre as áreas e garante que cada pessoa vai investir o seu melhor para o crescimento do negócio.
Segundo ele, este encaixe do candidato com a cultura da empresa é fundamental para o sucesso no trabalho. Muitas vezes até, há a preferência pela contratação de profissionais menos preparados, mas que se adaptem melhor aos aspectos comportamentais da organização. “Em geral nós não achamos os profissionais já tecnicamente prontos, e por isso optamos por formá-los aqui dentro já inseridos em nosso contexto,” conta Dalvi.
Um problema da primeira geração
Um dos motivos que explicam este fenômeno, e parece ser unanimidade entre os empreendedores, é o estágio em que se encontra o ecossistema empreendedor brasileiro, com o primeiro ciclo de startups atingindo a maturidade de negócio. Como não há uma geração anterior para servir de referência, este contexto acaba não favorecendo a entrada de profissionais neste tipo de empresa, tanto para funções que até então não existiam – como os analistas de sucesso do cliente – quanto para os níveis executivos.
Nas hierarquias mais altas, inclusive, a dificuldade de contratação é ainda maior. Para Vinicius Roveda, CEO do Conta Azul, um software de gestão para pequenas empresas, a falta de um histórico bem sucedido de executivos que saíram de grandes corporações para entrar em startups cria a imagem de um risco maior que a realidade. Aos poucos, no entanto, o formato de trabalho destas empresas vai quebrando este paradigma e começa a chamar a atenção destes profissionais. “Procuramos criar um ambiente mais horizontal, que garanta maior produtividade a estes executivos e estimule a tomada de decisão,” afirma Roveda.