Gustavo Favoreto e Tiago Dalvi, ambos da Olist, uma plataforma que conecta artesãos e pequenos comerciantes a grandes varejistas| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Trabalhar em uma startup pode ser o emprego dos sonhos. No entanto, para entrar em uma empresa deste segmento não basta apenas reunir habilidades técnicas e um bom currículo. É preciso que o profissional tenha também o perfil comportamental que estas companhias buscam – e é esta combinação que torna mais difícil o processo de contratação.

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Segundo Vitor Torres, fundador e CEO do Contabilizei, startup que oferece serviços de contabilidade pela internet para pequenas e médias empresas, a dificuldade existe por conta da maneira como o próprio mercado doutrinou os profissionais, que se acostumaram a ser apenas executores de funções específicas, sem atentar para o todo do processo onde estão inseridos. “Os profissionais precisam entender que todos são responsáveis por tudo o que acontece, e não apenas por uma parte do negócio,” explica Torres.

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Este contexto se traduz em um sentimento, conhecido no ambiente empreendedor com o senso de “ownership”. Ou seja, o trabalhador precisa sentir que também é dono do negócio. Desta maneira, segundo Torres, ele consegue tomar posse das suas atividades e trabalhar para atingir o objetivo determinado, mesmo que no caminho ele precise transitar entre outras áreas da empresa.

Inclusive, de acordo com Tiago Dalvi, é justamente esta abertura a novas experiências que caracteriza uma parte deste perfil comportamental do funcionário de uma startup. Ele é o CEO do Olist, uma plataforma que conecta artesãos e pequenos comerciantes a grandes varejistas. Em sua equipe ninguém é engessado na função inicial para a qual foi contratado, pensamento que permite muitas possibilidades de intercâmbio entre as áreas e garante que cada pessoa vai investir o seu melhor para o crescimento do negócio.

Está apto?

O que é preciso para conseguir uma vaga em uma startup:

  • Procure entender o que é uma startup e o que diferencia este tipo de empresa
  • Esteja sempre disposto a aprender e tenha vontade de crescer na empresa
  • Procure uma startup que tenha valores alinhados com os seus propósitos pessoais
  • Tenha paixão pelo trabalho e entenda que ele não faz parte apenas de um momento do seu dia
  • Mantenha-se aberto a experiências em áreas diferentes das quais está acostumado

Segundo ele, este encaixe do candidato com a cultura da empresa é fundamental para o sucesso no trabalho. Muitas vezes até, há a preferência pela contratação de profissionais menos preparados, mas que se adaptem melhor aos aspectos comportamentais da organização. “Em geral nós não achamos os profissionais já tecnicamente prontos, e por isso optamos por formá-los aqui dentro já inseridos em nosso contexto,” conta Dalvi.

Um problema da primeira geração

Um dos motivos que explicam este fenômeno, e parece ser unanimidade entre os empreendedores, é o estágio em que se encontra o ecossistema empreendedor brasileiro, com o primeiro ciclo de startups atingindo a maturidade de negócio. Como não há uma geração anterior para servir de referência, este contexto acaba não favorecendo a entrada de profissionais neste tipo de empresa, tanto para funções que até então não existiam – como os analistas de sucesso do cliente – quanto para os níveis executivos.

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Nas hierarquias mais altas, inclusive, a dificuldade de contratação é ainda maior. Para Vinicius Roveda, CEO do Conta Azul, um software de gestão para pequenas empresas, a falta de um histórico bem sucedido de executivos que saíram de grandes corporações para entrar em startups cria a imagem de um risco maior que a realidade. Aos poucos, no entanto, o formato de trabalho destas empresas vai quebrando este paradigma e começa a chamar a atenção destes profissionais. “Procuramos criar um ambiente mais horizontal, que garanta maior produtividade a estes executivos e estimule a tomada de decisão,” afirma Roveda.

Da burocracia de um banco à busca por novos desafios

Gustavo Favoreto, assistente de novos negócios na plataforma Olist, descobriu o que era uma startup há pouco tempo, quando ainda estava na empresa júnior do curso de Administração da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Saiu de lá por conta da oportunidade de estágio em um banco, mas para sua surpresa não foi chamado. Foi aí que buscou conhecer melhor o que caracteriza uma startup, e resolveu se candidatar a uma das vagas em aberto no Olist.

Segundo ele, a imagem que tinha da cultura da empresa, em comparação com a realidade sisuda de um banco, favoreceu muito sua decisão.

“Achei a oportunidade mais válida, pois o ambiente é mais favorável para trabalhar, aliando liberdade com produtividade. No banco eu teria que enfrentar um contexto muito mais formal e burocrático”, afirma Favoreto.

Fez a diferença

O desafio que o trabalho proporcionaria para a carreira dele aliado às oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional que a empresa proporciona fizeram toda a diferença para a escolha da startup em detrimento do estágio no banco.

“Me senti muito mais desafiado a trabalhar aqui, pois sabia o tanto que esta experiência tinha a agregar para mim”, diz o assistente de novos negócios.