A metodologia de mentorias no mundo dos negócios dá nova interpretação para a máxima “se conselho fosse bom, a gente não dava, vendia”. Comum no ecossistema de startups e novos negócios, em que empresários experientes orientam os empreendedores em início de carreira, a prática também ajuda quem já está na estrada e busca caminhos de desenvolvimento. Neste caso, o conselho será inspirador, e pode ser de graça.
Foi com esse objetivo que o Sebrae e a Endeavor criaram o programa de Desenvolvimento de Empresas de Alto Impacto. Setenta empresários do Paraná e Santa Catarina passaram por monitorias durante os últimos seis meses para identificar gargalos e estabelecer novas estratégias de crescimento. Além de encontros coletivos com empresários e dirigentes de grandes companhias do país, cada um também teve a oportunidade de ouvir os mentores individualmente.
Para os organizadores do programa, esse é um momento em que o alinhamento entre os perfis do empreendedor e do mentor é fundamental para o sucesso da metodologia. “Mais do que a experiência do mentor ser adequada ao modelo de negócio, ambos precisam ter personalidades complementares, que estabeleçam empatia e admiração”, observa Cirineu Rosa, representante da Endeavor no Paraná.
É a troca de experiências e práticas do dia a dia diante dos desafios de uma empresa em fase de expansão que vai ajudar o empreendedor a tomar decisões e ajustar os modelos de operação que pretendem sustentar o desenvolvimento dos negócios. “São dicas que não estão nos livros, estão na vivência de quem já passou pelo mesmo momento, superou problemas e conseguiu acertar”, explica Rosa. A Endeavor aplica a prática de mentoria junto a seus associados e reúne mais de 300 mentores em todo o país.
Visão ampla
Para o empresário Luiz Otávio Leão, de Curitiba, um dos mentores Endeavor, a prática ajuda o empreendedor a ter uma visão mais geral do negócio, observando as armadilhas que podem existir quando a atenção está concentrada em uma ou duas áreas da empresa. “Em geral, o foco está na produção ou nas vendas. Dificilmente há um olhar mais amplo, que possa trazer alternativas e evitar estrangulamentos no crescimento. Dar essas orientações é que faz a diferença”, diz. O empresário passou pela direção da Leão Junior/ Matte Leão, e hoje dirige a holding patrimonial da família, a Serra da Graciosa.
Outro aspecto importante no processo de mentoria é sobre a responsabilidade do empreendedor. Diferente da consultoria clássica, em que o plano de trabalho é construído em processos estabelecidos, a mentoria exige uma contrapartida ativa da outra parte. O mentor não assume a responsabilidade pela ação efetivamente. Essa será uma tarefa de quem dirige o negócio, a partir do que for identificado junto aos seus mentores.
“Por isso é importante a capacidade de evoluir nos resultados. A mentoria tem uma característica de inspiração e motivação, e o empreendedor precisa de preparo para identificar como aplicar as experiências e orientações do mentor no seu negócio”, observa o consultor do Sebrae, Emerson Cechin.