Com 142 salas de cinema espalhadas por todo o país, a rede paranaense Cinesystem pretende inaugurar 500 novas unidades até o fim de 2020, quase o quádruplo do número atual. Para colocar em prática o arrojado plano de expansão, a empresa conta com um aporte financeiro de R$ 40 milhões recebido em 2014 e vai buscar financiamento listando suas ações na bolsa de valores.
No fim de agosto, a Cinesystem entrou para a BM&FBovespa, na categoria de acesso chamada de Bovespa Mais. Por enquanto, as ações não foram negociadas em pregão e estão com os quatro sócios do negócio, os fundos de investimento Stratus e Hamilton Lane, o empresário Homero Frederico Icaza Figner e o Agroup Participações, que gere a marca Cinesystem.
A empresa tem até sete anos para fazer a primeira oferta de ações (IPO, sigla em inglês) e atingir o mínimo de 25% de ações em circulação. Até lá, deve adotar práticas que elevem seus padrões de governança corporativa e divulgar balanços financeiros e informações relevantes ao mercado para aumentar a visibilidade e transparência do negócio.
O diretor de administração de recursos do banco Petra, Ricardo Pedro, acredita que a primeira oferta de ações pode acontecer em até dois anos. Ele afirma que, por se tratar de uma companhia de médio porte, é provável que a Cinsystem atraia investidores que já conhecem o mercado de cinema.
Segundo informações da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o público total em salas de exibição cresceu 26,1% no primeiro trimestre de 2016, a maior taxa desde 2009. Nos três primeiros meses do ano, 54,8 milhões de pessoas foram ao cinema e movimentaram R$ 736,4 milhões. São pouco mais de 3 mil salas de exibição no Brasil.
A Cinesystem é a quarta maior rede em números de sala no Brasil, com 142 unidades, atrás da americana Cinemark, da mexicana Cinépolis e da brasileira Kinoplex. O faturamento da empresa é de R$ 140 milhões e, no ano passado, a companhia registrou um prejuízo líquido de R$ 403 mil.
Investimento
Fundada em Maringá no ano de 2003, a Cinesystem buscou aporte de terceiros para crescer. O maior valor recebido foi em 2014 quando a gestora brasileira de fundos de private equity Statrus aportou R$ 40 milhões no negócio, ao lado do fundo americano Hamilton Lane.
O grupo Stratus já tem experiência em listar na bolsa as empresas que aporta dinheiro. Foi assim com a Senior Solutions em 2012. O fundo investiu em 2005 na empresa de software para o setor financeiro e, sete anos depois, levou a companhia a entrar no Bovespa Mais, com ações sendo negociadas em pregão a partir de 2013.
Procurada, a Cinesystem não quis comentar a listagem na bolsa e nem falar sobre os planos de expansão.
Categoria de acesso à bolsa demora a deslanchar
Para facilitar o acesso de pequenas e médias empresas à bolsa de valores, a BM&FBovespa criou o Bovespa Mais, que permite que empresas sejam listadas sem fazer uma oferta imediata de ações. A modalidade, porém, ainda não deslanchou no país e conta com somente 13 companhias no nível um. Destas, apenas duas colocaram ações para negociações: Senior Solutions, desenvolvedora de softwares, e Nutriplant, indústria de fertilizantes.
“Seria de se esperar que tivesse um número de empresas bastante elevado, mas parece que não teve um apelo forte”, afirma o coordenador do laboratório de finanças do Insper, Michael Viriato. Para ele, dois fatores influenciaram a baixa adesão.
O primeiro seria o fato de o investidor brasileiro exigir um retorno muito alto, além de evitar investir em empresas que não são tão conhecidas. “O investimento em renda fixa no Brasil é muito bom”, explica Viriato. O segundo fator é o crescimento dos fundos de private equity no país, que investem quantias elevadas em troca de participação.
Uma empresa tem algumas formas de buscar dinheiro para financiar seus projetos de expansão: capital próprio, bancos, fundos de private equity e abertura de capital. “O mercado ainda não está maduro para investir em ações [de pequenas e médias companhias]”, resume o professor do Insper.
Para uma empresa, a principal vantagem de estar no Bovespa Mais é ganhar visibilidade enquanto aperfeiçoa as suas práticas de governança corporativa antes de lançar as primeiras ações no mercado. Em linha gerais, a governança corporativa significa adotar uma série de ações que deem transparência à empresa. Ter um bom nível de governança é uma exigência para estar na bolsa e, quanto maior o nível, melhor é a atração de investidores.
Já para os investidores a vantagem é que o negócio de pequeno porte tem uma gestão mais centralizada e potencial de crescimento mais rápido. O risco, porém, é maior. “A empresa [de pequeno e médio porte] tem menos poder de barganha com os fornecedores, menor escala de produção e suas margens podem ficar apertadas com solavancos da economia”, afirma Viriato.
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