Francisco Guernieri, HUmberto Gonçalves e Richard Buschmann criaram a Cervejaria Bastards Brewery.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

O segmento de comércio e serviços costuma ser a primeira opção para quem quer investir no próprio negócio. Além de serem setores com maior participação na economia, em ambos os casos as informações que envolvem a produção, distribuição e gestão do negócio tendem a ser mais acessíveis. No entanto, mesmo exigindo um esforço maior do empreendedor, o setor industrial também pode oferecer oportunidades para quem quer começar a própria empresa.

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De acordo com a consultora do Sebrae-PR, Sonia Shimoyama, a indústria é um segmento com potencial de mercado maior para quem quer começar um negócio, mas que ao mesmo tempo exige um investimento mais alto, uma estrutura de pessoas maior e mais competência técnica por parte do empreendedor. “Não basta apenas ter uma habilidade como em uma prestação de serviço, é preciso conhecer todo o processo produtivo para ter um produto de qualidade e um negócio competitivo”, afirma.

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Essas exigências reduzem a quantidade de novas empresas no mercado, ao mesmo tempo que garantem mais força e competitividade para quem já está consolidado. Dessa forma, desenha-se um mercado com uma menor quantidade de concorrentes, e uma competição mais acirrada. A consequência desta concorrência é a dificuldade de inserção de uma nova marca no mercado, e a complexidade dos canais de venda e distribuição.

No entanto, segundo Shimoyama, apesar das dificuldades em relação aos outros setores da economia, o segmento continua atraindo empreendedores que buscam um negócio com maior potencial de crescimento, alcance e diferenciação no mercado – segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) a indústria corresponde a 7,22% das empresas abertas no Brasil, o que corresponde a um crescimento de 6,88% em relação ao ano passado. “Uma pequena indústria não precisa de uma grande linha de produção, o que torna a inovação muito mais acessível”, comenta a consultora.

Perfil revolucionário e inquieto também funciona na indústria

O perfil do empreendedor que busca esse tipo de negócio é o mesmo daqueles que criam negócios nos setores de comércio e serviços. Para o professor de empreendedorismo e gestão da inovação da Universidade Positivo, Dálcio dos Reis Júnior, o perfil revolucionário e inquieto se aplica tanto para o comércio e serviços quanto para indústria. “São as pessoas não acomodadas, que se incomodam com os problemas da sociedade e conseguem perceber demandas que nem os consumidores sabem que possuem”, explica o professor.

A motivação do empreendedor, no entanto, é o que faz diferença segundo o professor. Para ele, o segredo de um negócio bem sucedido é perceber um problema real dos consumidores e propor o desenvolvimento de um produto que possa solucioná-lo. Uma vez que esse objetivo seja atingido, a tendência é que as pessoas se disponham a pagar pela solução proposta.

Em todos os setores da economia, prestar atenção às opiniões e percepções dos consumidores é fundamental para o desenvolvimento do negócio. Dos Reis explica que há uma diferença determinante entre a indústria e os serviços, já que no primeiro caso é muito mais complicado manter um contato com o consumidor final.

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Sócios criam cervejaria para atender também a produtores caseiros

A percepção de uma oportunidade de negócio foi justamente o que motivou os sócios Francisco Guernieri, Humberto Gonçalves e Richard Buschmann a começarem a Cervejaria Bastards Brewery, no início de 2014.

Antes de abrirem a empresa, fazer cervejas era um hobby, que aos poucos foi caindo no gosto dos amigos e a fabricação precisou aumentar. “Tentamos terceirizar a produção em outras cervejarias da cidade, mas todas estavam ocupadas,” conta Guernieri. “Foi aí que enxergamos a oportunidade de trabalhar nossa marca de cerveja e ainda montar uma fábrica que atendesse outros cervejeiros caseiros como a gente.”

Esse modelo de negócio escolhido pelos empreendedores, segundo Guernieri, favorece a empresa pois além de poder produzir a sua linha de cervejas, eles ainda tem capacidade para receber os chamados cervejeiros “ciganos” – que possuem marca e produto, mas não têm o espaço para produzir. Neste caso o fluxo de caixa da cervejaria fica mais favorável, já que os “ciganos” pagam de uma só vez o valor total do lote produzido.

O modelo de operação alavancou a empresa rapidamente, e em pouco mais de dois anos a produção passou de 6 mil litros para pouco mais de 18 mil litros por mês. A planta hoje ocupa um barracão de 400 m², com capacidade de armazenamento de 22 mil litros e de produção mensal de 60 mil litros. Além dos próprios produtos a Bastards Brewery produz também outras 4 marcas – Gobe, Raridade, Jokers e Babuína – que correspondem a cerca de 30% do total produzido.

Apesar do rápido crescimento, a jornada dos cervejeiros não foi só de conquistas. De acordo com Guernieri, a dificuldade de inserção da marca no mercado, assim como a incapacidade de grandes investimentos foram fatores que atrasaram o desenvolvimento do negócio. “Como não tivemos grandes aportes tínhamos que usar o próprio caixa para reinvestir na empresa, e isto atrasou um pouco nosso crescimento”, comenta.

Para o futuro os empreendedores pretendem trabalhar a marca da Bastards Brewery junto ao público, e ainda dobrar a capacidade de estocagem sem aumentar a linha produtiva– a meta é atingir os 50 mil litros por mês. “Nosso objetivo é fornecer ao consumidor uma experiência que vá além da cerveja, com outras propostas e outros produtos”, finaliza Guernieri.