Estagnação
Baixo nível de consumo inibe comércio
O comércio é um dos setores que mais sofre com a migração da população das cidades-dormitório. Nos dias úteis, o movimento costuma ser fraco e só melhora, em geral, no fim de semana, mas surge outro problema: o baixo poder de compra da população.
"A população é pobre, então o consumo também é pequeno", diz Adinis Colodel, presidente da Associação Comercial, Industrial e de Agropecuária de Almirante Tamandaré, na região de Curitiba, e proprietário de uma loja de material de construção. Além disso, falta mão de obra qualificada para atuar no próprio comércio. Os vendedores e atendentes mais preprados vão trabalhar em outras cidades em busca de melhores salários. Segundo Colodel, o salário pago pelo comércio da cidade é 20% inferior ao de Curitiba. Segundo ele, o comércio da cidade, embora tenha crescido nos últimos anos, ainda tem muito que se desenvolver. "Não dá para comparar. Aqui não temos nenhuma grande rede de supermercado e nem de farmácia. O comércio de material de construção, por exemplo, não consegue vender como os da capital. Nossos produtos têm menor valor agregado e as lojas não têm fôlego para conceder prazos longos para pagamento", acrescenta.
Dono de uma papelaria em Jataizinho, na região de Londrina, João Pinto Filho, 61 anos, afirma que o comércio da cidade está "estagnado". Segundo ele, os comerciantes não encontram motivação para investir, pois sabem que a concorrência com Londrina é muito grande. "O comércio no grande centro é mais dinâmico", afirma.
A maior oferta de emprego vem fazendo com que um grande número de pessoas do interior procure melhores oportunidades de trabalho em cidades maiores, como Maringá e Londrina. Em Sarandi, 20 mil pessoas percorrem diariamente cerca de dez quilômetros até Maringá para trabalhar ou estudar. O dado, levantado pelo Observatório das Metrópoles, ligado à Universidade Estadual de Maringá (UEM), corresponde a 50% da população economicamente ativa do município. Desse total, 90% vão a trabalho.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego mostram um contraste no ritmo de geração de vagas entre os dois municípios. Enquanto Maringá obteve um saldo de 434 empregos com carteira assinada em junho, em Sarandi esse volume foi quatro vezes menor (93 novas vagas). A coordenadora do Observatório, Ana Lúcia Rodrigues, diz que a proximidade faz com que, além de trabalhar, os moradores optem por fazer as compras em Maringá. "Essa característica faz com que a economia de Sarandi continue fragilizada", explica. Para ela, a predileção pelo comércio de Maringá, que oferece mais opções, impede a expansão da economia da cidade-dormitório. O prefeito de Sarandi, Carlos Alberto de Paula Junior, discorda dessa avaliação. Segundo ele, os moradores têm optado cada vez mais por consumir em Sarandi, pois o comércio está em crescimento.
A assessoria de imprensa da prefeitura de Sarandi estima que a população tenha aumentado em 13 mil nos últimos cinco anos, em parte por causa da migração de pessoas em busca de um valor menor dos terrenos e das residências. "As pessoas comentam muito sobre a criminalidade, mas o índice é bem menor que o de outras cidades", diz o prefeito. Neste ano, 24 pessoas foram assassinadas em Sarandi.
Com aproximadamente 11,6 mil habitantes, Jataizinho, a 25 quilômetros de Londrina, vê diariamente centenas de moradores deixarem a cidade para trabalhar e estudar nas cidades vizinhas. O principal destino é Londrina, mas alguns profissionais também trabalham em Ibiporã, localizada entre os dois municípios.
Um exemplo é o de Patrícia Lino, 34 anos. Funcionária de uma concessionária de motocicletas, ela procurou em Londrina melhores oportunidades profissionais. Todos os dias, Patrícia deixa a casa dos pais e em 30 minutos percorre, de carro, aproximadamente 30 quilômetros para chegar ao emprego. "Até pensei em morar em Londrina, mas o custo de vida é muito alto. Sem contar que a cidade é violenta. Em Jataizinho encontro a tranquilidade para criar meus filhos (uma menina de 16 anos e um garoto de 10)", conta. O chefe de gabinete do município, Dirceu Antunes, diz que estão sendo estudadas formas de fixar a população na cidade, como a criação de leis incentivando a instalação de indústrias.
Em Santa Tereza do Oeste, o movimento se repete, principalmente em direção aos frigoríficos de Cascavel. Aos 61 anos, a auxiliar de produção Irene do Vale Ianoski, mesmo aposentada, não deixou de trabalhar e fazer o trajeto de aproximadamente 18 quilômetros entre Santa Tereza e Cascavel. Há 17 anos ela trabalha em um frigorífico, nunca pensou em sair de Santa Tereza e continua trabalhando. "Tenho a minha casinha aqui, que eu comprei da prefeitura. Para mim está bom. Tem ônibus contratado pela empresa que leva e traz do serviço", diz. O secretário de Indústria e Comércio de Santa Tereza, Luiz Carlos Dias, afirma que o número de pessoas que fazem esse trajeto reduziu nos últimos anos com o incentivo à industrialização no município.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast