A preocupação com o orçamento das famílias chega aos empregadores. Não é raro encontrar programas de educação financeira dentro de empresas. É o caso da montadora sueca Volvo, que tem fábrica na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). No período de quatro anos, a organização concedeu treinamento gratuito para 500 funcionários, sempre no horário do expediente.
O resultado foi que os freqüentes pedidos de socorro financeiro ao departamento de recursos humanos da empresa caíram em 60%, e agora são raros os casos extremos quando a empresa recomenda ao funcionário um coaching pessoal para lidar com as finanças (também pago pela empresa). "A cultura brasileira leva ao endividamento. Iniciamos o programa quando percebemos que apenas ajuda pontual não resolve. É preciso agir preventivamente", diz o analista de recursos humanos da empresa, Rubens Cieslak.
A coordenadora de viagens da empresa, Regina Borsari, fez o curso e detectou falhas em seu comportamento financeiro: sentia-se culpada por não comprar bens para os filhos. Começou a aplicar dinheiro e agora sonha com uma previdência privada. "Só controlar os gastos é muito pouco", diz.
Confisco
O gerente de transporte da Itaipu Binacional, Ivo Antônio dos Santos, é o responsável pelo programa de orçamento doméstico da empresa. Ele dá palestras sobre planejamento financeiro dentro e fora da corporação.
"O mais importante é a pessoa que está em treinamento ter o apoio da família, porque nos casos mais graves colocamos todos na UTI. Desviamos o ganho mensal da pessoa para uma conta administrada pela Itaipu e vamos ensinando aos poucos como fazer", conta. "É como tratar de um drogado." Cerca de 60 famílias já passaram pelo "internamento".
Santos tornou-se especialista no assunto depois de penar na vida pessoal. "Eu gastava antes de chegar o salário, tinha ansiedade de ter coisas e nenhuma paciência de esperar o momento certo ou fazer poupança. Precisava de uma bicicleta e comprava um carro."
Nos últimos cinco anos, o Serviço Central de Proteção ao Crédito da Associação Comercial do Paraná (ACP) registrou 3 milhões de casos de dívidas no comércio na região de Curitiba. "Creio que nem 10% das pessoas guarda dinheiro", estima a psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira. Quando pergunta a seus pacientes o quanto ganham, em geral eles não sabem o valor exato ou se é o valor bruto ou líquido. Ela acredita, no entanto, que ninguém tem desculpa para não controlar as finanças depois do Plano Real e da estabilidade que ele trouxe.
Para Vera Rita, outro aspecto da imaturidade financeira é a confiança excessiva: a pessoa compra um ativo que não dá o retorno mas não desiste dele para não dar o braço a torcer. Já outros têm falta de paciência e vendem ações em baixa.