Afetadas pela crise econômica, preocupadas em aumentar a geração de caixa ou em se adaptar à nova realidade do mercado, empresas públicas e privadas estão promovendo um verdadeiro saldão de ativos. Levantamento em diferentes setores aponta que as companhias estão tentando se desfazer de ao menos R$ 149,6 bilhões.
Na lista de empresas, estão Petrobras, Vale, Eletrobras e Infraero. As construtoras, afetadas pela Operação Lava Jato, também entraram em temporada de liquidação, que inclui a venda de participações em diversas concessões. Analistas destacam que, apesar da instabilidade econômica, a forte alta do dólar contribui para atrair investidores estrangeiros.
“O Brasil está barato. Houve desvalorização de 60% a 70% no valor dos ativos nos últimos 12 meses por causa da alta do dólar. E a liquidez internacional é gigantesca”, diz Fabio Silveira, diretor de pesquisa da GO Associados.
Ele avalia que a crise econômica pode durar até três anos e que a turbulência política, apesar de criar instabilidade institucional, é menor que os problemas políticos e sociais de outros emergentes, como os países do Leste Europeu e do Oriente Médio.
Mas há desafios. Especialistas citam o caso da Petrobras, que vem sentindo os efeitos da crise econômica e da Operação Lava Jato. A estatal foi obrigada a cortar investimentos e vender ativos para reduzir seu nível de endividamento, que deve ter chegado a R$ 500 bilhões no fim de setembro. Sua meta é se desfazer de US$ 15,1 bilhões (R$ 59,6 bilhões) até o fim do ano que vem.
Com o fim do superciclo das commodities, a Vale apertou o passo de seu programa de venda de ativos. Para este ano, a expectativa da mineradora é levantar de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões (até R$ 27,6 bilhões) com desinvestimentos e parcerias. No rol dos ativos que foram para a prateleira estão participações no corredor logístico de Nacala e uma mina de carvão, ambos em Moçambique.
A CSN é outra que está à caça de compradores. São dois os ativos oficialmente à venda: o terminal de contêineres de Sepetiba (Rio de Janeiro), avaliado em cerca de R$ 1 bilhão, segundo fontes de mercado, e a fatia da empresa na Usiminas.
No setor aéreo, o governo planeja vender os 49% de participação da Infraero nos aeroportos já concedidos à iniciativa privada – Brasília, São Paulo (Guarulhos e Viracopos), Galeão (no Rio) e Confins (Belo Horizonte). A meta é faturar ao menos R$ 10 bilhões. Na nova rodada de concessão, os aeroportos de Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre serão integralmente entregues ao setor privado.
Eletrobras vai vender participação em sociedades
No centro das turbulências que atravessam o setor elétrico e com negócios sob investigação na Operação Lava Jato, a Eletrobras vai encolher e concentrar suas atividades em setores onde o governo considera a presença estatal estratégica: as grandes hidrelétricas e linhas de transmissão.
“Estamos trabalhando em um projeto de reestruturação e em uma nova estratégia da holding, bem como a de cada uma das coligadas e das distribuidoras. Temos 154 Sociedades de Propósito Específico embaixo da Eletrobras. A nossa meta é fazer um grande enxugamento nisso, mas temos de avaliar cada uma delas. Isso está sendo feito”, disse o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga.
A Eletrobras também planeja se desfazer das distribuidoras de energia nos estados, ou pelo menos de parte desses ativos. A primeira a ser vendida é a Celg, de Goiás, onde a estatal tem 51% de participação. A companhia tem valor estimado em R$ 8 bilhões. Outras seis distribuidoras poderão ser vendidas: Cepisa, do Piauí; Ceal, de Alagoas; Eletrobras Amazonas; Ceron, de Rondônia; Eletroacre, do Acre; e Bovesa, de Roraima. Também estão na lista a CEA, do Amapá; e a CERR, de Roraima.
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