A riqueza dos 7,7 milhões de hectares de florestas plantadas brasileiras vai muito além do uso convencional da madeira para a produção de papel e energia. De adoçante a medicamentos, existe uma série de outros produtos de maior valor agregado que podem ser extraídos das árvores.
Para isso, contudo, será necessário tirar do papel um conceito que hoje ainda está mais restrito à pesquisas em laboratórios: o de biorrefinaria.
O termo traduz um empreendimento análogo a uma refinaria, mas, em vez de petróleo, a matéria-prima usada é a biomassa de diversas origens, que tem a vantagem de ser uma fonte renovável a partir da qual se pode obter uma gama infinita de produtos como biocombustíveis, solventes, rações animais, plásticos e fibra de carbono, além de centenas de outros insumos para as indústrias química, farmacêutica, têxtil e cosmética. Muitos desses produtos renováveis têm aplicações que podem, inclusive, substituir derivados de petróleo no setor químico.
De olho no futuro, pesquisadores da Embrapa Florestas e do setor florestal brasileiro apostam nesta ideia para aproveitar 100% das árvores plantadas para gerar novos produtos. Hoje, além da celulose, que é o carro-chefe do setor, a madeira é usada como lenha para a produção de carvão vegetal e geração de energia, além das aplicações sólidas, como móveis, pisos e painéis compensados.
“Eu olho para uma árvore como as pessoas olham para o petróleo”, diz Washington Luiz Esteves Magalhães. Há 19 anos trabalhando com biomassa – 14 deles como pesquisador da Embrapa Florestas –, ele dedicou anos ao estudo da diversificação do uso econômico das árvores plantadas. A partir de agora, ele vai centrar esforços em um componente da madeira, a lignina. “A lignina é antioxidante. Vou pesquisar se ela tem propriedades antitumorais ou antimutagênicas”, detalha Magalhães.
Usada hoje basicamente para a produção de energia – a partir da queima do licor negro que resulta do processo de polpação da celulose – a lignina equivale a aproximadamente 25% da madeira e é, entre os componentes da madeira, o que mais tem potencial para novos produtos como emulsificantes, aglutinantes, adesivos, dispersantes, fibras de carbono, entre outros. “A celulose que sai da indústria sai com 15% de hemicelulose. Usando biotecnologia, podem ser transformados em outros álcoois, produtos de maior valor agregado, medicamentos, aditivos para diesel”, detalha Magalhães. Um exemplo é o xilitol, um adoçante feito a partir da hemicelulose presente nas árvores.
Segundo o pesquisador, a partir de processos e tecnologias inovadoras, é possível ir além das tradicionais aplicações da madeira. Ele faz questão de frisar, no entanto, que um longo caminho separa os avanços nos laboratórios da comercialização. Enquanto alguns desses compostos já estão no mercado, outros ainda esbarram na falta de viabilidade econômica, apesar de terem alto valor agregado quando comparados ao preço da madeira, celulose e energia.