Apesar de ainda serem um traço nas estatísticas de vendas, os carros elétricos estão se aproximando do mercado de massa. É um movimento que vem sendo impulsionado pela superação da principal barreira à popularização da tecnologia, o custo elevado das baterias.
O Brasil não vai ficar fora da onda. A expectativa da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) é de que, até 2020 circulem entre 30 mil e 40 mil carros elétricos, disparando a necessidade de investimentos na rede de geração e distribuição de energia. Para Celso Novais, coordenador brasileiro do Programa Veículo Elétrico da Itaipu, esse não será um obstáculo. “Não haveria caos energético. Motores a combustão ainda têm eficiência muito pequena e há um ganho grande quando isso é levado em conta”, diz.
Estudo recente da Bloomberg New Energy Finance (BNEF) indica que o custo das baterias de íon-lítio já caíram 65% desde 2010, chegando, em 2015, a 350 dólares por kWh de capacidade de carga. A projeção é de que o preço fique abaixo de 120 dólares por kWh até 2030. Os cálculos do setor automotivo apontam que as baterias se tornam financeiramente viáveis a partir dos US$ 150 por kWh, o que deve ser alcançado nos próximos cinco ou seis anos.
Com preços menores, as montadoras poderão fazer carros com alcance maior (hoje os principais modelos não rodam mais do que 400 km sem uma nova carga) a um preço menor. O Nissan Leaf, o elétrico mais vendido até hoje, usa baterias de 24 kWh para atingir um raio de 160 km – um sistema de acúmulo de energia cujo custo beira os US$ 10 mil. Se a indústria reduzir o custo da bateria como projetado, esse valor seria de menos de US$ 3 mil.
No ano passado, a Itaipu Binacional assinou um compromisso para desenvolver, em cerca de dois anos, a primeira bateria de íon-lítio com tecnologia nacional. A experiência conta com o apoio da Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI) e da consultoria inglesa especialista no ramo de veículos híbridos e elétricos, Mira Limited. A proposta do projeto é desenvolver uma tecnologia capaz de ser utilizada tanto em carros elétricos como em sistemas de armazenamento de energia. O domínio do conhecimento contribuiria para a redução dos custos da alternativa no país.
Celso Novais, coordenador brasileiro do Programa Veículo Elétrico de Itaipu, explica que os esforços são para o desenvolvimento de um primeiro protótipo capaz de ganhar escala, mas as pesquisas ainda não tiveram início porque dependem da liberação de recursos. “Acompanhamos análises de institutos de pesquisa da Suíça, Alemanha e Inglaterra, por exemplo, e todos indicam que, daqui três anos, os valores das estruturas e, por consequência, dos carros elétricos, devem cair de modo mais expressivo”, diz.
Baterias melhores e mais baratas são o segredo do grande lançamento do ano no setor, o Chevrolet Bolt. O carro tem um alcance de 320 km a um preço bastante competitivo para o mercado norte-americano: US$ 30 mil dólares, já descontados os benefícios fiscais. Outro lançamento que deve chegar neste ano ao mercado é o Tesla Model 3. A marca americana é conhecida por elétricos velozes que custam mais de US$ 70 mil. O lançamento é diferente, vai ser vendido por menos de US$ 35 mil e a promessa é que seu raio de circulação passe dos 400 km.
Além de maior autonomia, o desenvolvimento da tecnologia ameniza outros inconvenientes, como o tempo de recarga. A Ford vai lançar, no final deste ano, o Focus Eletric, modelo totalmente elétrico, que começa a ser fabricado na Europa e nos Estados Unidos. O veículo vem com um carregador que a recarga de 80% da bateria em apenas 30 minutos, gerando, somente com a carga, autonomia por 160 km.
O domínio da tecnologia das baterias é tão crucial para o sucesso dos elétricos que a Tesla, em parceria com a Panasonic, trabalha na construção, em Nevada, da Gigafactory, uma fábrica especializada na produção de baterias de íon-lítio. Com o incremento em pesquisas, a estratégia promete ganho de escala e contínua redução nos valores das baterias e dos carros da marca. Juntas, as empresas investem US$ 5 bilhões na construção do espaço.
A projeção da BNEF é que os carros elétricos representem 35% das vendas anuais de veículos em 2040, ou 40 milhões de unidades por ano – eles serão um quarto da frota global, reduzindo a demanda por derivados de petróleo em 13 milhões de barris de petróleo por dia.
Tecnologia ainda depende de políticas públicas
A tecnologia de carros elétricos vem sendo incentivada por políticas públicas no exterior (nos EUA, por exemplo, há créditos tributários para quem compra um desses modelos), mas, no Brasil, ainda engatinha. Em outubro do ano passado, o governo federal adotou a primeira medida para incentivar a chegada dos automóveis no país: zerou o Imposto de Importação para carros movidos à eletricidade ou hidrogênio, cuja alíquota era de 35%. Mesmo assim, a valorização do dólar em relação ao real, associada a outros tributos, atrasa a democratização da alternativa.
Para o engenheiro Ricardo Takahira, diretor do núcleo de pesquisa da ABVE e membro da Comissão Técnica de Veículos Elétricos e Híbridos da SAE Brasil, o nó tributário é agravado pelas próprias qualidades da tecnologia. Carros elétricos consomem menos energia, o que reduziria a arrecadação do governo, acostumado com a tributação elevada dos combustíveis. Além disso, ele gera menos manutenção, o que também reduz a arrecadação. “O domínio do carro elétrico virá, os dados mostram isso, mas, para a transformação acontecer mais cedo, são necessárias políticas públicas firmes que criem esse mercado e também forneçam estruturas – como pontos para recarga nas cidades, por exemplo – para ele sobreviver”, explica.
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