É fato conhecido que o Brasil tem um enorme potencial eólico, mas a notícia que já era boa ficou ainda melhor. Em razão do aumento da altura das torres de geração, a capacidade de produzir energia a partir dos ventos que cortam o país pode ser até seis vezes maior do que o estimado no último grande levantamento nacional, feito há 15 anos.
INFOGRÁFICO: veja a evolução do tamanho das torres eólicas
A explicação é aparentemente simples. Ao aumentar a altura das torres, as máquinas captam ventos com velocidades médias mais altas e constantes, com pouca ou nenhuma turbulência, e são capazes de gerar mais energia. Além disso, o ganho de altura faz com que áreas que antes não ofereciam as condições mínimas para a geração de energia eólica, passem a ser consideradas interessantes para a atividade.
“Quando fizemos o Atlas Eólico Brasileiro lá em 2001, as máquinas que existiam no Brasil tinham no máximo 50 metros de altura”, afirma Odilon Camargo, responsável pelo levantamento. É o caso do Parque Eólico de Palmas, no Paraná. Pioneiro no Sul do país, o parque tem até hoje máquinas com 48 metros. Naquela época, o potencial eólico brasileiro foi calculado em 143 GW, quase a capacidade total instalada no país hoje, de 147 GW. Hoje, com máquinas de 100 metros esse potencial chegaria a 880 GW. O Brasil é o quarto país do mundo onde a energia eólica mais cresce no mundo e este ano atingiu a marca de 10 GW de capacidade instalada.
Graças ao avanço da tecnologia, a energia eólica vai cada vez mais para o alto, com sucessivos ganhos de eficiência. Os atlas eólicos de alguns estados como Rio Grande do Sul e Bahia, também feitos por Camargo, por exemplo, já consideram torres de 100 e 150 metros. Em 15 anos, não foi apenas a altura das torres que aumentou, mas a capacidade das máquinas também ficou melhore, com turbinas mais potentes e hélices mais longas para ter um aproveitamento melhor do vento. Enquanto a potência da maioria dos aerogeradores brasileiros varia entre 2 MW e 3 MW, a empresa dinamarquesa Vestas está testando uma máquina com potência de 8 MW e 140 metros de altura.
Com a altura das torres, até estados que não tinham tanto potencial, como o Paraná e São Paulo, passam a ter regiões viáveis à geração eólica, com ventos superiores a 7 m/s, afirma o doutor em Física Ênio Bueno Pereira, coordenador da pesquisa que revisou o potencial eólico onshore (em terra) brasileiro como parte do subprojeto Energias Renováveis do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-Clima).
Novo salto
Sem poder baixar o custo dos equipamentos, as empresas terão de buscar eficiência aumentando a geração de energia. Em um mercado cada vez mais competitivo, a indústria eólica mundial será forçada a dar novos saltos tecnológicos para sobreviver, afirma Camargo, que viu de perto como isso vem ocorrendo na prática ao participar principal feira do setor, a Wind Energy 2016, realizada em setembro deste ano em Hamburgo, na Alemanha. Segundo Camargo, a GE e a espanhola Gamesa apresentaram torres de 180 e 160 metros respectivamente.
“Graças à tecnologia, hoje temos torres muito altas, leves, modulares, fáceis de serem transportadas e que podem ser montadas sem a necessidade de guindastes. Essas torres de 150, 160 e 180 metros já são uma realidade no mercado, sobretudo lá fora”, diz Camargo. O próximo grande passo, segundo ele, são rotores maiores e as pás modulares, que vão facilitar muito a logística de transporte.