O boom das fontes renováveis, especialmente a solar, criou um mercado de oportunidades e fez surgir novos modelos de negócio mundo afora. Capitaneados por empresas e startups, os novos formatos ocorrem no vácuo deixado pelas fontes renováveis ao liberar consumidores das distribuidoras e aproveitam as oportunidades trazidas pelo avanço da geração caseira de energia.
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Os “sem telhado”
A nova resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para a geração distribuída no Brasil, de número 687 e em vigor desde 1º de março deste ano, permite que compensação de energia na tarifa seja feita por meio de geração remota, ou seja, os consumidores podem gerar sua própria energia para obtenção de créditos na conta de luz em local diferente do ponto de consumo, desde que este lugar seja de domínio da mesma concessionária de energia. Essa possibilidade, que não existia antes, na resolução 482, trouxe oportunidades de negócio para atender os chamados consumidores “sem telhado”.
De fazenda solar comunitária a aluguel de placas solares, a maioria desses negócios está nascendo no embalo da popularização dessa fonte. E não é à toa. A energia solar é a que mais cresce na matriz mundial. No Brasil, até 2050, 18% dos domicílios brasileiros contarão com geração fotovoltaica, segundo projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Mas o consumidor não precisará instalar placas solares em seu telhado para obter os benefícios da energia solar. Aproveitando as mudanças nas regras da geração distribuída no país, que permite a compensação a partir da geração remota de energia, a 3B Energy, de Curitiba, comercializa cotas em uma fazenda solar com capacidade de 25 MW que a empresa está implantando no município de Nova Esperança, no Noroeste do Estado. A partir de R$ 5 mil, o cliente pode comprar uma cota e se torna dono de uma fatia da usina solar sem o ônus da gestão do negócio. A energia gerada lá é compensada na conta de luz do cliente, explica Alexandre Brandão, sócio fundador da empresa, especializada no setor fotovoltaico.
Enquanto o modelo de geração compartilhada ainda está engatinhando no Brasil, nos Estados Unidos, as chamadas fazendas solares comunitárias são permitidas em 14 estados. No total, o país tem cerca de 100 MW em operação nesse modelo, o suficiente para abastecer 30 mil casas. Diferente das fazendas solares convencionais, que vendem energia para serviços públicos, através de contratos de longo prazo, os modelos comunitários suprem a necessidade dos consumidores, que compram uma fatia do projeto para uso próprio. Todos que têm interesse em energia solar podem participar, independente do tamanho do consumo de energia. “A vantagem desse investimento coletivo é o ganho de escala e a redução do custo do sistema. Quanto maior o projeto, mais viável ele fica”, afirma Rodrigo Lopes Sauaia, diretor da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
MAIS EXEMPLOS
Em Nova York, outra startup, a Transactive Grid, está testando um sistema de venda direta de energia entre consumidores que usam energia solar. A empresa desenvolveu um sistema de comercialização que reúne produtores e compradores de energia solar sem intermediação das empresas. Um software da startup usa a oscilação entre a oferta e a demanda para regular os preços da energia. A 2,8 mil quilômetros da Big Apple, uma empresa do Texas (EUA) ganha dinheiro com carregadores de celulares movidos a energia solar. Em um mundo cada vez mais conectado, a NRG aluga tótens portáteis para estabelecimentos que querem suprir a necessidade de seus clientes cujos aparelhos eletrônicos ficaram sem carga.
Recentemente, a 3B Energy também testou outro de geração compartilhada em Curitiba. A pedido de um sindicato da capital, a empresa construiu uma usina solar que será usada em benefício dos associados. Com esse projeto, eles poderão adquirir cotas e trocar uma conta de luz mais cara por uma mais barata por meio da compensação. Na prática, eles são eles não são donos da usina solar, mas se beneficiam da energia gerada por ela. “São soluções pensadas para atender a perfis diferentes de clientes”, detalha Brandão.
Quem não quer – ou não pode – comprar um sistema fotovoltaico ou investir num projeto de geração compartilhada, pode “alugar” os painéis solares. Esse é o ramo de atuação da startup curitibana Renova Green, que está vendendo plano de energia solar por assinatura. O modelo de negócios surgiu depois que os sócios tentaram comercializar kits de sistemas fotovoltaicos em redes de materiais de construção, mas não tiveram abertura por parte das empresas. A inspiração para o modelo de assinaturas veio de uma empresa dos Estados Unidos, conta Reinaldo Cardoso de Lima Neto, um dos fundadores. Agora, a empresa busca um investidor para aportar R$ 15 milhões na expansão do projeto.
Enquanto alguns desses negócios nascem do zero, outros são resultado do olhar atento de algumas empresas para novos nichos de mercado. Foi o que fez a varejista sueca Ikea. Além de móveis e objetos de decoração, os clientes também encontram painéis solares residenciais nas lojas da rede espalhadas pela Europa. O movimento começou em 2013 pelas unidades do Reino Unido, após uma pesquisa realizada pela rede na qual um a cada três britânicos disse que gostaria de investir em energia solar. O kit custa aproximadamente 5.150 euros, o equivalente a R$ 18,8 mil.
Novas regras para geração caseira de energia abriram janela de oportunidades
Muitos modelos interessantes surgiram a partir da partir da nova resolução para mini e micro geração de energia, a 687 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), segundo Rodrigo Lopes Sauaia, diretor da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Segundo ele, em todo o país, já são mais de mil empresas trabalhando com produtos e serviços de energia solar e esse número tende a crescer. “Num momento em que a economia brasileira ainda anda de lado, esse segmento desponta mesmo em meio à crise. Enquanto a economia do país teve recessão, nosso segmento cresceu mais de 320% em 2015”, diz. De acordo com Sauaia, esse é um momento bom para empreendedores criativos tirarem boas ideias do papel, mas com os pés no chão. Embora seja relativamente novo no país, o setor fotovoltaico é bastante competitivo e dinâmico. “Antes de tudo é preciso dominar a regulamentação do setor e ter amplo conhecimento técnico. Estamos falando de sistemas fotovoltaicos que tem uma vida útil de pelo menos 25 anos. Os novos negócios devem considerar esse tipo de peculiaridade”, diz.
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